Covid-19. "A nossa situação é mais séria. Há o risco do país ficar sem profissionais de saúde" durante a epidemia
Covid-19. "A nossa situação é mais séria. Há o risco do país ficar sem profissionais de saúde" durante a epidemia
Nesta guerra contra a epidemia, o primeiro-ministro luxemburguês tenta segurar os profissionais de saúde transfronteiriços que representam, segundo ele, “70% do total dos trabalhadores”, cerca de 15 mil, em 2019, deste setor no país.
Sem eles, o sistema de saúde colapsa. "Se não tivermos mais trabalhadores fronteiriços, todo o sector hospitalar no Luxemburgo deixará de poder funcionar”, declarou o chefe do governo. Nas últimas 24 horas, registaram-se mais 186 doentes infetados e mais três mortes no Grão-Ducado, totalizando oito vítimas mortais e 670 casos confirmados de infeção.
Do total destes profissionais que residem nos países vizinhos e atravessam diariamente a fronteira para trabalhar no Luxemburgo, 30,72% vêm de França, 15,54% a Bélgica e 9,11% da Alemanha, indica o relatório sobre o estado da saúde no país, de Marie-Lise Lair.
Grand Est pode 'roubar' médicos e enfermeiros
Neste momento, a grande preocupação são os residentes em França, na região fronteira do Grand Est, que é a mais afetada pela epidemia em França. Os hospitais pedem já reforço de pessoal, a braços com 1,169 pessoas internadas, das quais 300 em reanimação. E os doentes continuam a chegar diariamente e em maior número pois o pico da doença é esperado para daqui a 10 dias.
Consciente da situação o primeiro-ministro já tranquilizou o país assegurando ter garantidas do presidente francês, Emmanuel Macron, de que este não iria requisitar os transfronteiriços do setor da saúde luxemburguês.
"Se não tivermos mais trabalhadores fronteiriços, todo o sector hospitalar no Luxemburgo deixará de poder funcionar, ele [Emmanuel Macron] sabe e é uma responsabilidade que tem enquanto vizinho", frisou Xavier Bettel na quarta-feira, em conferência de imprensa. "A França não vai deixar morrer o seu vizinho Luxemburgo", confia este governante.
Marie-Lise Lair, especialista em políticas da saúde e conselheira do governo (na foto em cima ao lado do ex-ministro da saúde) não tem assim tanta certeza: “A situação em França, especialmente no Grand Est é crítica, e perante a evolução esperada da epidemia irá piorar. Espero que o governo francês respeite o pedido, mas infelizmente, não estou muito convencida. Se a situação lá ficar catastrófica, a França poderá requisitar os nossos profissionais transfronteiriços”.
De acordo com o seu estudo "Etat des lieux des professions de santé au Luxembourg", encomendado pelo Ministério da Saúde e apresentado em 2019, residem em França 8% dos médicos e 29,9% dos enfermeiros, a maioria dos transfronteiriços, que trabalham no Grão-Ducado.
Além da França, também a Alemanha e a Bélgica podem requisitar estes profissionais transfronteiriços, se precisarem.
“Temos de estar preparados. O nosso sistema de saúde é muito vulnerável e dependente dos profissionais de saúde transfronteiriços”, alerta esta especialista. E sublinha: “Não nos enganemos. Neste momento, a situação é crítica em todo o lado, mas entre nós é pior, mais severa, porque há risco de outros países fazerem requisição dos nossos profissionais”.
País dependente dos vizinhos
No seu estudo entregue ao governo, em 2019 esta especialista já avisa: “Com 62% dos profissionais de saúde vindos do estrangeiro, o país já se encontra no limiar crítico, tornando-o extremamente vulnerável e dependente das e dependente das decisões políticas e económicas dos países fronteiriços” em relação a estes profissionais.
O país “tem de estar preparado e ainda tem tempo para o fazer”, avança esta especialista.
De facto, o governo já acautela todas as possibilidades para evitar a falta de pessoal nos hospitais.
Recorrer aos médicos sem competências linguísticas
A Ministra da Saúde, Paulette Lenert, declarou que se fosse preciso poderia recorrer aos profissionais de saúde com certificado, mas que, atualmente, não podem exercer no Luxemburgo, por falta de competências linguísticas. Uma hipótese avançada no Jim Kent Show na rádio 100,7, quinta-feira à noite.
Neste momento, lembra Marie-Lise Lair os hospitais já foram reorganizados para enfrentar o número de pacientes esperados.
Enfermeiros a trabalhar "12 horas por dia"
Há hospitais que fecharam e transferiram urgências para uma só unidade hospitalar, foram canceladas todas as cirurgias e consultas programadas e não urgentes “o que libertou os médicos, enfermeiros e outros profissionais para reforçarem as equipas que irão ser mais precisas e serviços que terão um maior afluxo de doentes durante o pico da epidemia”, diz esta especialista.
Além de que ainda se poderá recorrer “aos médicos e enfermeiros já reformados” ou aqueles que trabalham a tempo parcial. Ou os que estejam em casa a cuidar dos filhos.
“Neste momento já há profissionais de saúde ausentes, muitos deles a cuidar dos filhos, porque as escolas fecharam”, e esses poderão também engrossar as fileiras, encontrando-se condições para os menores.
Numa crise como esta poderá acontecer também, “os enfermeiros, médicos e outros profissionais de saúde, poderão ter de trabalhar mais horas, em turnos de 10 ou 12 horas” devido à falta de recursos humanos. vivem-se tempos muito difíceis, de uma crise sanitária, como nunca se viu na história do mundo moderno.
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