A última valsa
A última valsa
Este é o último editorial que escrevo para o Contacto. Foram dois anos e meio de uma intensa e rica experiência num grande jornal em português feito no Luxemburgo. Tenho muito orgulho nos meus camaradas que em pouco tempo conseguiram tornar este jornal um dos melhores da Europa na sua categoria e ainda tenho uma maior admiração pelos falantes de português no Grão-Ducado que com os seu trabalho conquistam uma vida melhor para os seus.
Algumas vezes ouvi gente revoltar-se com a identificação que alguns luxemburgueses fazem entre os portugueses e as mulheres a dias e os homens da obras. Podendo ser redutor da atual comunidade lusófona, quero dizer que tenho bastante orgulho que os meus compatriotas construam grande parte deste país e que façam trabalhos fundamentais, daqueles que nunca confinam, porque são a base de sustentação de qualquer sociedade. É preciso que nestes tempos de crise, que demonstraram isso, se possa valorizar social e economicamente o que esses trabalhadores fazem. O trabalho duro nunca envergonhou ninguém. E quem trabalha merece o nosso reconhecimento e admiração.
Não foi a minha primeira experiência fora de Portugal, passei grande parte da minha infância na Checoslováquia, Argélia, França e Suíça, com os meus pais que eram refugiados políticos que combatiam a ditadura em Portugal. Mas esta estada no Luxemburgo foi certamente a experiência mais gratificante.
O jornalista deve estar sempre a aprender com as pessoas para quem escreve e sobre quem conta as histórias. E o tempo passado no Grão-Ducado foi extraordinariamente rico nesse sentido, porque a vida de luta, de criação e de trabalho dos lusófonos no Grão-Ducado está cheia de histórias únicas feita por gente trabalhadora, solidária e com uma generosidade desconcertante.
O Contacto fez 50 anos neste estranho ano de 2020. Nestes tempos difíceis os nossos jornalistas multiplicaram o trabalho por dois para tentarem dar o máximo de informação para ajudar os nossos leitores em tempos de pandemia. O papel do jornal não se limita a dar informação à comunidade que o lê, mas é também um instrumento de empoderamento dos lusófonos tornando mais visíveis os seus pensamentos e anseios na sociedade em que vivem.
Tenho a certeza que os lusófonos no Luxemburgo vão ser capazes de traçar novas páginas no país que escolheram habitar e contribuir para o melhorar em áreas como o ensino, o acesso à habitação, as condições de trabalho e o combate às desigualdades sociais no Luxemburgo. Todas essas páginas serão certamente notícia no Contacto. Vamos ver se no próximo meio século o impressionante peso que os lusófonos têm na criação da riqueza neste país se vai espelhar em outros domínios da sociedade: na cultura, na política, na ciência e na cidadania em geral.
Adeus e vou lendo-vos no Contacto.
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