"Um proprietário 'chico esperto' já não consegue vender a casa" no Luxemburgo
"Um proprietário 'chico esperto' já não consegue vender a casa" no Luxemburgo
A subida das taxas de juro está a originar um aumento de oferta no mercado imobiliário do Luxemburgo. E este crescimento de oferta, com mais casas à venda, está a rebentar com a “bolha da especulação imobiliária”.
"As casas estão agora a vender-se a um preço justo. E os proprietários que se armam em 'chico espertos', inflacionando o real valor da sua habitação, não a conseguem vender. Porque há mais oferta e os compradores têm possibilidade de optar, pagando o preço que o imóvel realmente vale, sem ser inflacionado", explica ao Contacto Luís Macedo, dono da agência imobiliária Immo-Macedo, no Luxemburgo.
"No geral, o preço das casas já baixou 11%, e há até quem tenha diminuído até 20% do valor inicial e inflacionado do seu imóvel para o vender", refere o agente imobiliário que defende a justiça dos preços, "porque não se deve prejudicar ninguém". Atualmente, a sua agência possui uma carteira de imóveis para venda com o dobro das casas do ano passado.
Mais casas, menos compradores
Com o aumento das taxas de juro, explica, "há menos compradores para as casas recentes, quase todas acima do milhão de euros, o que faz aumentar o número de imóveis disponíveis nesse segmento, dando mais opções a quem tem capacidade financeira e aproveita para negociar".
Por outro lado, existe uma dificuldade maior de se obter um empréstimo bancário. "A taxa de esforço é maior e os bancos avaliam o rendimento disponível de quem pede o empréstimo, se de facto poderá comportar a subida dos juros".
Para quem tem dinheiro, este é um "bom momento para comprar uma casa", diz Luís Macedo. Diz ainda que se a crise se mantiver e os juros continuarem a subir, haverá mais casas colocadas à venda.
No entanto, há quem esteja a passar por situações complicadas. "Pessoas que colocaram a sua casa à venda e compraram uma nova, não estão a conseguir vender pelo preço que pedem, e dada a urgência, por não conseguirem comportar dois empréstimos bancários, acabam por baixar o preço do imóvel, às vezes com prejuízo, para o vender rapidamente", explica.
Baixar o preço ou esperar
Outros proprietários há, sobretudo os investidores de imobiliário, que preferem retirar os imóveis do mercado, por não conseguirem vender ao preço que desejam, e esperar até ao um melhor momento do mercado.
Após anos de subidas sucessivas e acentuadas dos preços do imobiliário, a crise colocou um travão neste cenário. As previsões do Statec para a evolução dos preços imobiliários em 2023 no Luxemburgo foram revistas em baixa: para -2,3% em termos homólogos após um aumento de 14% em 2021.
Os preços tendem a estagnar ou mesmo a diminuir e, neste momento, o pulsar da atividade do mercado imobiliário está nas mãos dos vendedores: baixar os preços ou "esperar para ver".
Existem dois cenários que parecem possíveis a curto e a médio prazo, explica ao Contacto Julien Licheron, investigador na área do imobiliário do Luxembourg Institute of Socio-Economic Research (LISER).
Primeiro cenário: "A maioria dos vendedores decide esperar antes de baixar os seus preços, e aqui teremos uma queda muito acentuada da atividade em 2023, com uma descida muito moderada dos preços, ou mesmo uma subida dos preços, mas abaixo da inflação". Tal implicaria uma queda nos preços "reais" das casas, estima o investigador.
Segundo cenário: "os vendedores antecipam uma queda dos preços na sua maioria e concordam em reduzir os seus objetivos de vendas, permitindo que a atividade volte a retomar, mas com preços mais baixos".
Julien Licheron acrescenta: "Tudo dependerá da atitude dos vendedores e das suas expetativas sobre as perspetivas do fim da crise, em particular, o momento da recuperação da procura através de um aumento do crescimento económico e/ou de um abrandamento das taxas de juro no final de 2023".
Mercado num impasse
Antoine Paccoud, investigador do Liser na área do mercado imobiliário, o mercado está à espera de uma "decisão do governo" para sair do impasse, gerado pelo aumento das taxas de juros e redução do benefício dos investidores. Para o especialista também existem dois possíveis cenários futuros: "Ou se subsidia mais os compradores de 'primeira viagem' e se restauram os benefícios para os investidores, a fim de alinhar a procura com os preços; ou se aceita coletivamente que os preços devem estagnar ou cair ligeiramente, a fim de permitir que certos compradores não-investidores regressem ao mercado".
Neste momento, adianta Antoine Paccoud, o mercado parece estar à espera de uma "decisão do governo". O principal efeito a que estamos a assistir é a uma queda significativa nos volumes de transação. Parece que os promotores [imobiliários] preferem esperar em vez de negociar os seus preços".
O Contacto tem uma nova aplicação móvel de notícias. Descarregue aqui para Android e iOS. Siga-nos no Facebook, Twitter e receba as nossas newsletters diárias.
