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Todos os países têm que cortar já 15% no gás ou a UE enfrentará um inverno sombrio
Economia 7 min. 20.07.2022 Do nosso arquivo online
Ameaça energética

Todos os países têm que cortar já 15% no gás ou a UE enfrentará um inverno sombrio

Gazprom anunciou que o Nordstream 1, o principal gasoduto que fornece o gás russo à Europa está em manutenção – e não se saber quando recomeça a operar. Para a UE este é um claro indício de que Putin se prepara para gerar o caos na UE no inverno.
Ameaça energética

Todos os países têm que cortar já 15% no gás ou a UE enfrentará um inverno sombrio

Gazprom anunciou que o Nordstream 1, o principal gasoduto que fornece o gás russo à Europa está em manutenção – e não se saber quando recomeça a operar. Para a UE este é um claro indício de que Putin se prepara para gerar o caos na UE no inverno.
Foto: dpa
Economia 7 min. 20.07.2022 Do nosso arquivo online
Ameaça energética

Todos os países têm que cortar já 15% no gás ou a UE enfrentará um inverno sombrio

Telma MIGUEL
Telma MIGUEL
A Comissão já só espera o pior: Putin cortar todo o fornecimento de gás à Europa. E pede aos 27 países para reduzirem o consumo de gás em 15%, de 1 de agosto a 31 de março. A medida ainda é voluntária, mas no momento em que a Rússia congelar o fornecimento de gás haverá um alerta a nível da UE e será obrigatória. A preocupação em Bruxelas com o inverno é enorme.

Vladimir Putin está a usar o fornecimento de gás à Europa como arma de guerra contra a Europa é a ideia consensual em Bruxelas. Esta quarta-feira, antecipando os cortes mais do que previsíveis do fornecimento à UE, a Comissão propôs um plano de redução do consumo do gás em que se pede a todos os 27 países – sem exceção e mesmo os que não recebem gás russo – que de 1 de agosto até 31 de março de 2023  - reduzam o seu consumo total de gás em 15%. Este valor é obtido somando os últimos cinco anos de consumo em cada país entre agosto e março e calculando a média histórica. E a partir desse valor atingir o objetivo de reduzir 15%.

A proposta da Comissão vai ser avaliada num conselho extraordinário de ministros de Energia, havendo até lá, certamente, discussões nos Estados-membros. Se adotada na reunião dos 27 ministros de Energia do próximo dia 26, a 1 de agosto, como pretende a Comissão, a corrida a contra-relógio para cortar no consumo de gás começa.


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 Na apresentação da proposta, Ursula von der Leyen referiu que não há dúvidas de que “a Rússia está a chantagear-nos e está a usar o gás como arma”. O facto de a Gazprom ter anunciado que o Nordstream 1, o principal gasoduto que fornece o gás russo à Europa está em manutenção – e não se saber quando recomeça a operar - é, segundo os comissários europeus, um claro indício de que Putin se prepara para gerar o caos na UE no inverno.

Nesta quarta-feira em que passaram 147 dias desde o início da invasão da Ucrânia, von der Leyen recordou que o Kremlin já tinha começado a manipular os preços do gás muito antes do começo da guerra. “A Rússia já estava a reter o fornecimento de gás para provocar artificialmente a subida dos preços”.

 Depósitos de gás estão a 64%

Mas agora a questão não é só de preços, é de se instalar o pânico se a UE não estiver já prevenida, uma ideia partilhada pelos comissários que esta quarta-feira  se reuniram no Berlaymont. “O que vemos hoje é que temos doze Estados-membros que são atingidos por um corte total ou parcial do fornecimento de gás. No geral, o fluxo do gás da Rússia para a UE é um terço do que era no ano passado”, recordou a presidente da Comissão. E disse que “muito já foi feito para nos prepararmos”. 

Mas não chega, se a Gazprom (a companhia estatal russa) deixar completamente de fornecer a Europa. Segundo von der Leyen, o armazenamento nos depósitos europeus está a 64% da sua capacidade total – a Comissão pediu que estivesse em 90% no início de novembro – já foram celebrados contratos, feitos em nome da União Europeia, com inúmeros países para fornecer gás natural liquefeito (LNG) ou através de pipeline. E vários países também já assinaram contratos de fornecimento com novos fornecedores.

 “O fornecimento de gás de outras fontes aumentou impressionantemente desde janeiro em 35 bcm. Houve um acordo com os EUA de fornecimento de LNG, a Noruega aumentou o fornecimento, e foram feitos contratos com o Qatar, a Argélia, o Egito e Israel e, na passada segunda-feira, foi assinado um acordo com o Azerbaijão”, disse. 

Por outro lado, acrescentou: “Trabalhámos muito em aumentar o desenvolvimento de energias renováveis, que é a energia de que precisamos, limpa e “feita em casa””.  Neste campo há boas notícias: “Desde o início de 2022 temos mais 20 gigawatts de capacidade de energias renováveis, o que equivale a 4 bcm de gás que é assim substituído”.


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Mas, mesmo assim, calcula a Comissão, o aumento do fornecimento de novas fontes não chegará. Vai haver uma falta de 15% para cobrir as necessidades, e isto assumindo que a Europa não passe por um inverno extremamente frio. Estes 15%, sustenta a Comissão, equivalem a 45 bcm de gás, e se essa poupança for feita permite “atravessar o inverno com segurança. O nosso motto é quanto mais depressa agirmos, mais em segurança ficaremos”, sublinhou von der Leyen.

 Onze países europeus lançaram alerta

A comissária da Energia Kadri Simson, avisou que a situação é muito clara: “Paira todos os dias sobre as nossas cabeças a possibilidade de a Rússia cortar todo o fornecimento de gás”.

Neste momento, a redução de consumo de gás na UE é de 5%, disse Simson. “O  melhor exemplo é a Finlândia que foi o primeiro país onde a Rússia cortou o fornecimento de gás e que conseguiu reduzir o consumo em 54%, [em relação ao ano anterior]. Os Países Baixos cortaram 20% de consumo de gás”, salientou. A situação de pré-pânico já é visível. Até agora, onze países europeus já emitiram alertas antecipados e a Alemanha, que foi o primeiro país a soar o alarme, já reativou, inclusivamente, centrais a carvão. E a Bélgica prolongou a vida de centrais nucleares programadas para fechar.

Por isso, disse a comissária da Energia, “Os países estão a partir de diferentes posições, mas a solidariedade é essencial. Agindo juntos somos nós que decidimos a nossa política energética, não Putin”. Segundo os cálculos da Comissão, atrasar a tomada de medidas pode levar a 1,5% de redução do PIB dos países, pelas consequências em cascata que uma interrupção da produção industrial teria.


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"O inverno está a chegar", Timmermans cita Guerra dos Tronos

“Esta é a primeira vez que a nossa segurança energética a nível europeu é ameaçada. Temos que estar preparados para um disrupção total. E um corte total de gás russo é um cenário provável, e irá afetar toda a UE, todos os países do nosso Mercado Único”. Von der Leyen pediu que todos os governos colaborassem neste esforço energético, mesmo aqueles que não recebem gás russo – como é o caso de Portugal e do Luxemburgo, por exemplo. 

“Numa crise deste tipo, o pior cenário é a fragmentação. Temos que nos manter unidos. O bem-estar dos nossos cidadãos e os empregos estão em jogo. Sei que o que estamos a pedir é muito, é um sacrifício, mas é absolutamente necessário para nos protegermos”. 

Von der Leyen deu o exemplo da pandemia, e da compra de vacinas, como o momento em que a solidariedade europeia trouxe vantagens para todos. Bem como a resposta à invasão da Ucrânia, em que os países se coordenaram para criar seis pacotes de sanções.

Frans Timermmans, o vice-presidente da Comissão com a pasta do Clima salientou que “é agora, no pico do verão temos que nos preparar para o inverno, para manter as casas aquecidas e a indústria a funcionar. 

Por isso quando dizemos “O inverno está a chegar”, não estamos apenas a citar a Guerra dos Tronos [a série da HBO vista por milões em todo o mundo]. Se não nos prepararmos já haverá sérias consequências para a nossa economia e ninguém vai conseguir escapar a isso. Não podemos de maneira nenhuma deixar a situação ficar fora de controle. Temos que poder dizer aos europeus: vocês não vão passar frio e não vão ficar sem empregos”.


dpatopbilder - 11.07.2022, Mecklenburg-Vorpommern, Lubmin: Rohrsysteme und Absperrvorrichtungen in der Gasempfangsstation der Ostseepipeline Nord Stream 1 und der Übernahmestation der Ferngasleitung OPAL (Ostsee-Pipeline-Anbindungsleitung) sind vor Sonnenaufgang zu sehen. Die Ostsee-Pipeline Nord Stream 1, durch die seit 2011 russisches Erdgas nach Deutschland fließt, wird wegen planungsmäßiger Wartungsarbeiten für etwa zehn Tage abgeschaltet. Foto: Jens Büttner/dpa +++ dpa-Bildfunk +++
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Em todos os cenários ,o fornecimento de gás doméstico está garantido

Neste momento a proposta é de um corte voluntário, mas se o Kremlin cortar mesmo todo o fornecimento de gás será acionado um alerta a nível da União Europeia ao abrigo do artigo 122 e aí os países terão que enfrentar cortes coercivos.  Em qualquer das situações, explicou Frans Timmermans, o fornecimento de gás aos lares ficará sempre garantido, mesmo numa situação extrema.

 “Mas embora protegidos, os cidadãos podem contribuir muito para a redução do consumo do gás. Temos mesmo que ter o aquecimento a 22ºC?. Os cortes não vão ser fáceis, mas se os fizermos preventivamente vamos continuar a ser os donos do nosso destino e evitaremos uma crise imensa no inverno. E se conseguirmos fazer isto a tentativa de Putin destruir a Europa cai por terra”.

Além disso, alertou o vice-presidente da Comissão responsável pelo Pacto Ecológico, temos que acelerar para as renováveis “o custo de fazer a transição energética é menor do que o custo de manter o uso de combustíveis fósseis”.


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Neste momento, o comissário para o Mercado Interno, Thierry Breton, que coordenou a “task force” da produção de vacinas na Europa, está já em contactos com os ministros da indústria e com os industriais europeus para analisar e pôr em prática os mecanismos para se implementar as poupanças energéticas.

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