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Países anunciam medidas para poupar energia e contestação começa a ouvir-se
Economia 8 min. 26.08.2022 Do nosso arquivo online
Crise energética

Países anunciam medidas para poupar energia e contestação começa a ouvir-se

Crise energética

Países anunciam medidas para poupar energia e contestação começa a ouvir-se

Foto: Yui Mok/PA Wire/dpa
Economia 8 min. 26.08.2022 Do nosso arquivo online
Crise energética

Países anunciam medidas para poupar energia e contestação começa a ouvir-se

Ana TOMÁS
Ana TOMÁS
O impacto das decisões de vários governos europeus já está a ter alguns reflexos sociais, sobretudo no Reino Unido, onde o preço máximo da energia no país é atualizado hoje para quase o dobro.

À medida que o verão começa a chegar ao fim, são conhecidas as primeiras medidas que os países europeus pretendem implementar para poupar gás, na sequência da guerra na Ucrânia e das sanções à Rússia, principal fornecedor desta fonte energética a grande parte dos países da União Europeia.

O impacto noutras fontes de energia, como a eletricidade, e em vários setores económicos está a pressionar os números da inflação de forma generalizada, assim como o preço dos alimentos. Os países preparam, por isso, várias medidas para poupar e conter a escalada de preços, mas o seu impacto social começa também a fazer-se sentir.

Alemanha

Um dos países mais dependentes do gás russo, a Alemanha, deverá aplicar, a partir de 1 de outubro e com fim previsto para o final de março de 2024, uma taxa sobre o gás que foi fixada este mês em 2,4 cêntimos de euro por quilowatt hora, noticia a Bloomberg esta sexta-feira. 


Alemães preparam-se para casas mais frias e ruas escuras neste inverno
Algumas lojas já comunicaram que estão esgotar o 'stock' de aquecedores elétricos.

O governo alemão pretende impor a taxa aos consumidores para ajudar a financiar o apoio aos fornecedores, mas ao mesmo tempo está a tentar restringir o subsídio apenas às empresas que deverão precisar de ajuda.

Essa restrição está a ser contemplada depois do coro de críticas no país sobre o aumento dos lucros de algumas empresas de energia. Tem havido também apelos generalizados para um imposto adicional sobre as empresas energéticas cujos lucros aumentaram devido à crise, embora o ministro das Finanças, Christian Lindner, tenha excluído tal medida para já.  

Ao mesmo tempo, como noticiou a AFP, o executivo germânico decidiu reduzir temporariamente o IVA sobre o gás, de 19% para 7%, até março de 2024, para ajudar os consumidores a lidar com o aumento dos preços.

Infraestruturas, como as dos transportes públicos, também terão de se adaptar, estando já previstas alterações na rede ferroviária. Os comboios responsáveis por entregas de carvão e petróleo vão passar a ter prioridade sobre os comboios de passageiros para assegurar o fornecimento de energia do país, anunciou o governo alemão esta quarta-feira.


Alemanha baixa o IVA do gás para ajudar consumidores a suportar custos
A taxa reduzida permanecerá em vigor pelo menos até ao final de março de 2024.

No que respeita ao consumo doméstico, algumas lojas já comunicaram que estão esgotar o stock de aquecedores elétricos, procurados como substitutos para o tradicional aquecimento a gás.

As cidades e instituições políticas também já estão a anunciar poupanças. O Senado de Berlim quer cortar pelo menos 10% de seu consumo de energia e Hannover baixou a temperatura da água em piscinas públicas aquecidas e desligou a água quente em todos os edifícios da cidade. A iluminação urbana também foi desligada ou reduzida em edifícios e equipamentos públicos de várias cidades.

Suíça

O governo suíço anunciou esta quarta-feira que pretende reduzir o consumo de gás na Suíça em 15%, este inverno, seguindo a proposta da União Europeia.

O país, que não pertence à UE, não tem instalações de armazenamento de gás no seu território e está inteiramente dependente das importações e, de acordo com a AFP, até três quartos das entregas de gás são feitas através da Alemanha, pelo que o país será afetado pela escassez desta fonte de energia no país vizinho.

A 16 de fevereiro, a Suíça, que tem mais de 680 centrais hidroelétricas, já tinha decidido criar uma reserva hidroelétrica para o inverno de 2022/2023. Mas face à iminente escassez também de eletricidade, o governo declarou, este mês, ter iniciado negociações para definir centrais elétricas de reserva que seriam alimentadas por gás ou petróleo, para poder recorrer a estas centrais de reserva a partir do final do próximo inverno e em casos excecionais.


Suíça admite cortar eletricidade por várias horas durante o inverno
Medida de último recurso faz parte de um plano faseado que o país preparou para enfrentar uma possível escassez energética.

Entretanto, o governo suíço, que em último recurso também já admitiu poder ter de fazer apagões alternados na rede elétrica no inverno, vai lançar em breve uma campanha de poupança a nível nacional para informar a população e as empresas de medidas simples e rápidas para poupar energia. 

As cidades, municípios, cantões e o governo federal assinaram uma carta, recentemente, para acelerar o desenvolvimento das redes térmicas a fim de reduzir o número de sistemas de aquecimento a petróleo e gás.

França

A preparar a contestação que se avizinha, face a esta espécie de austeridade energética, Emmanuel Macron fez um discurso polémico esta semana, onde citou os efeitos da guerra na Ucrânia e a crise climática, falou no "fim da abundância" - em "liquidez", "produtos tecnológicos", matérias-primas ou água - e no "fim do óbvio", como a democracia, e "o fim do descuido".

Admitindo que face a este contexto, os franceses "possam reagir com grande ansiedade", Macron apelou ao governo para "respeitar a palavra dada e os compromissos assumidos", e para "reafirmar uma unidade muito forte".


Macron apela à união do governo face ao "fim da abundância"
A crise climática e a guerra na Ucrânia foram alguns dos acontecimentos que marcaram o discurso do novo ano político.

O discurso presidencial pode indiciar que mais medidas estarão a caminho para poupar energia, numa França também afetada pelos incêndios de verão.

Em julho, o governo anunciou medidas para conter o consumo energético, como a interdição de publicidade luminosa à noite, exceto nas estações de comboios e aeroportos ou a proibição da manutenção das portas abertas nas lojas quando o ar condicionado ou o aquecimento estão ligados.

Macron também tem instado empresas, cidadãos e administrações locais a trabalhar em planos de contingência durante o verão para evitar um inverno difícil.   

Reino Unido

No Reino Unido a contestação social já se começa a fazer sentir. O preço máximo da energia no país vai ser atualizado esta sexta-feira para quase o dobro.

Segundo noticia a agência Lusa, o novo valor fixado pelo regulador britânico, o Ofgem (Office of Gas and Electricity Markets) para o 'teto' de preços [price cap], que entrará em vigor em 1 de outubro, vai ultrapassar as 3.500 libras (4.144 euros), segundo especialistas do mercado energético.   


Europa. Gás natural ultrapassa os 300 euros por MWh
Trata-se de um novo máximo desde o recorde histórico assinalado em março.

O Ofgem tinha aumentado o valor ​​​​​​​54% em abril, situando a despesa média anual em 1.971 libras (2.335 euros ao câmbio atual). 

O preço máximo que as empresas de energia estão autorizadas a cobrar aos seus clientes é determinado de acordo com as variações dos preços nos mercados internacionais e outros custos. 

A energia já é um dos principais fatores para a taxa recorde de inflação no Reino Unido, de 10,1%, que economistas do banco de investimento Citi e da Resolution Foundation estimaram poder chegar aos 18% em 2023. O Banco de Inglaterra antecipou que o país vai entrar numa “longa recessão”. 

A crise de preços começa a refletir-se em instabilidade social e política, com greves em vários setores. 

Os partidos Trabalhista e Liberais Democratas exortaram o Governo a congelar já os preços para impedir um agravamento da crise do aumento de custo de vida, que também está a pesar nos custos com alimentação e transportes. 

Em maio, o governo britânico tinha anunciado um apoio de 400 libras (474 euros) por agregado familiar para reduzir o impacto do aumento, além de apoios adicionais a famílias com rendimentos baixos, inválidos e reformados.  

Portugal

Em Portugal foi esta semana anunciado pela EDP, líder de mercado, o aumento médio de 30 euros na fatura do gás das famílias, a partir de outubro, aos quais são acrescidos entre cinco a sete euros de taxas e impostos.

Para os cerca de 433.300 (dois terços) dos 650.000 clientes residenciais, que representam os consumos mais baixos, a subida do preço do gás terá um impacto médio de 18 euros mensais, antes de taxas e impostos, ou seja, o aumento rondará os 22 euros, segundo as contas da agência Lusa.

 A EDP Comercial justificou a decisão com a escalada de preços do gás nos mercados internacionais, nos últimos meses, uma situação que foi agravada pela guerra na Ucrânia e as restrições ao abastecimento de gás russo, o que fez também aumentar o preço em outros mercados, como, por exemplo, no gás proveniente da Argélia.  

Além da EDP, também a Galp vai aumentar os preços do gás natural em outubro, num “valor a indicar brevemente”, adiantou à Lusa fonte oficial da companhia, apontando igualmente a “volatilidade” e aumento do custo como razões para a atualização dos preços.

Entretanto, o Governo anunciou que vai propor o levantamento das restrições legais existentes, para permitir o acesso às famílias e pequenos negócios ao mercado regulado, face aos aumentos anunciados por estes distribuidores.

Luxemburgo

No Luxemburgo, o pacote de medidas para poupar energia só será totalmente conhecido em setembro. Mas o ministro Claude Turmes anunciou esta semana, em entrevista à 100.7, que uma das medidas passará pelo limite de temperatura do aquecimento dos edifícios do Estado, no inverno, que não poderá ir além dos 20ºC. 


Dicas práticas para poupar energia em casa
Conheça algumas dicas para reduzir o consumo de eletricidade. A carteira vai agradecer.

Além disso, também foram dadas instruções para reduzir a iluminação de equipamentos e estabelecimentos públicos, tendo algumas câmaras, como a de Esch-sur-Alzette começado já instruído os seus funcionários para reduzirem o consumo de energia na sua rotina diária.

Há também algumas dicas práticas dirigidas à população publicadas pelo governo. 

(Com agências)

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