Inflação a 10% na zona euro coloca pressão sobre líderes europeus
Inflação a 10% na zona euro coloca pressão sobre líderes europeus
A inflação na zona euro saltou novamente em setembro para 10%, um novo recorde alimentado pelo aumento dos preços da energia e dos alimentos, o que pressiona os líderes europeus a agirem mais rapidamente e com mais força, segundo antecipam especialistas ouvidos pela AFP.
O valor da taxa "é horrível sob qualquer perspetiva", afirma Bert Colijn, analista do ING Bank. De qualquer modo, é já superior às previsões dos analistas da Bloomberg e Factset, que esperavam uma inflação de 9,7%.
A inflação tinha atingido 9,1% em agosto na zona euro, o valor mais elevado desde que o serviço europeu de estatística - Eurostat - começou a publicar este indicador, em janeiro de 1997.
A subida para dois dígitos, também uma estreia, acontece quando os ministros da energia da UE finalmente chegam a acordo sobre medidas de emergência para ajudar as famílias e as empresas a lidar com o aumento das contas de energia. Contudo, muitos dizem que são necessárias mais à medidas para o inverno que se aproxima.
Os Estados-membros aprovaram propostas apresentadas em meados de setembro pela Comissão Europeia para recuperar alguns dos "super lucros" dos produtores de energia e redistribuí-los aos consumidores, e para impor uma redução na procura de eletricidade nas horas de ponta.
"Podemos esperar que a intervenção governamental se intensifique à medida que as taxas de inflação sobem", admite Bert Colijn, que antecipa "uma situação confusa na zona euro" porque as medidas nacionais "não são coordenadas em Bruxelas".
Lentidão europeia
Segundo os analistas, a lentidão das instituições europeias em responder à urgência da crise tem levado os Estados-membros da UE a agir de forma desordenada, o que poderá ser insuficiente para conter a perda de milhares de postos de trabalho na indústria podendo e o aparecimento de movimentos sociais como os coletes amarelos.
Os empresários europeus alertaram esta quinta-feira que os preços elevados do gás e da eletricidade estavam a ameaçar a sobrevivência de milhares de empresas em toda a Europa.
O chanceler Olaf Scholz anunciou no mesmo dia um "escudo" de 200 mil milhões de euros para limitar os preços da energia. Já a França adotou medidas de proteção dos consumidores, incluindo um corte nos preços dos combustíveis em setembro, que lhe permitiram manter a inflação mais baixa da Europa, a 6,2%, de acordo com dados harmonizados do Eurostat.
A inflação na Alemanha está a 10,9%. Os países bálticos, que estão particularmente expostos às consequências da guerra na Ucrânia, estão a sofrer a inflação muito mais elevada, que atingiu 24,2% na Estónia, 22,5% na Lituânia e 22,4% na Letónia.
Desde Novembro de 2021, a inflação dos preços no consumidor atingiu todos os meses um novo máximo histórico, um fenómeno ligado à ruptura das cadeias de abastecimento e ao choque dos preços da energia que foi exacerbado pelas consequências da guerra liderada pela Rússia na Ucrânia. E ainda não há luz no fim do túnel.
Jessica Hinds, analista da Capital Economics, acredita que "a inflação irá aumentar ainda mais nos próximos meses", uma vez que o aumento dos salários também faz subir o preço dos serviços.
O Eurostat anunciou esta sexta-feira que a taxa de desemprego na zona euro se encontrava no seu nível mais baixo de sempre, atingindo os 6,6% da população ativa, o que deverá manter a pressão sobre os salários.
Numa tentativa de travar o fenómeno, o Banco Central Europeu (BCE) aumentou as suas taxas de juro diretoras em 0,75 pontos percentuais em setembro, após um primeiro aumento de 0,50 pontos percentuais em 11 anos anunciado em julho. A presidente do BCE Christine Lagarde avisou na segunda-feira que iria aumentar ainda mais as taxas nos próximos meses.
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