França quer pena "exemplar" contra Ikea por espiar vida dos trabalhadores
França quer pena "exemplar" contra Ikea por espiar vida dos trabalhadores
As autoridades francesas querem uma sentença "exemplar" para os responsáveis do Ikea France, que são acusados de terem espiado centenas de funcionários, incluindo as suas vidas privadas.
O processo exige do grupo sueco o pagamento de dois milhões de euros e um ano de prisão para um dos seus antigos CEOs.
A procuradora da República Pamela Tabardel pede que do julgamento, que começou há cinco dias e que registou alguns momentos acalorados, segundo a AFP, saia uma "mensagem forte", considerando que o que está em causa não é apenas a vigilância de funcionários de uma empresa, mas o precedente que abre. A "proteção das nossas vidas privadas em relação a uma ameaça, a da vigilância em massa", afirmou, desejando que a mensagem de condenação seja enviada a as outros grandes grupos empresariais, uma vez que o "Ikea France não é o único" a ter recorrido a este tipo de prática de vigilância.
Práticas com vários anos e intervenientes
Apesar de na sexta-feira a Ikea France se ter demarcado destas práticas de vigilância por parte de elementos da sua hierarquia, manifestando a sua "oposição" aos métodos praticados, a investigação que remonta a 2012 revelou um sistema de vigilância complexo e bem articulado dos funcionários e, por vezes, dos próprios clientes.
De acordo com a AFP, a vigilância "em massa" dos empregados, incluía desde registos criminais ao estilo de vida e ao património.
Entre os arguidos do processo contam-se antigos líderes da Ikea France e gestores de lojas mas também agentes da polícia e o chefe de uma empresa de investigação privada.
Esta terça-feira, foi pedida a libertação de dois elementos da equipa executiva: a antiga diretora de recursos humanos Claire Hery, que enfrentava até dez anos de prisão, e de Stefan Vanoverbeke, CEO da Ikea France de 2010 a 2015, por não existirem elementos suficientes que comprovassem os seus envolvimentos nos crimes.
No entanto, a procuradora pediu três anos de prisão, dois deles com pena suspensa, para o CEO antecessor de Vanoverbeke, Jean-Louis Baillot, que ocupou o cargo entre 1996-2009, sustentando que a "política iniciada" pelo antigo gestor afetou a vida de pelo menos 400 empregados que foram objeto de "investigações privadas".
Os arguidos estão indiciados por atos cometidos entre 2009 e 2012, apesar de as práticas ilegais datarem do início dos anos 2000, segundo a procuradora, que levantou também a questão da possível corrupção dos agentes policiais envolvidos, embora esta acusação tenha sido retirada pelo Ministério Público na sua declaração de abertura.
"Não estou a dizer que houve corrupção, mas não estou a dizer que não houve. Isto suscita questões neste caso", declarou Tabardel, reconhecendo "imperfeições" no processo, mas sublinhando a oportunidade para os sistema judicial de "analisar e reprimir" práticas de vigilância "clandestinas", salientando que poucos processos criminais foram instaurados nesta área.
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