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Santos de casa também fazem milagres
Opinião Desporto 5 min. 09.06.2022 Do nosso arquivo online
Portugal

Santos de casa também fazem milagres

Fernando Santos numa sessão de treinos na Cidade do Futebol, em Oeiras, a 8 de junho de 2022.
Portugal

Santos de casa também fazem milagres

Fernando Santos numa sessão de treinos na Cidade do Futebol, em Oeiras, a 8 de junho de 2022.
Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP
Opinião Desporto 5 min. 09.06.2022 Do nosso arquivo online
Portugal

Santos de casa também fazem milagres

Rui Miguel Tovar
Rui Miguel Tovar
Um seleccionador chega aos 100 jogos pela primeira vez na história centenária de Portugal. As vitórias vs campeões mundiais de Fernando Santos.

Fernando Manuel Fernandes da Costa Santos, eis o nome completo do homem, o primeiro de sempre a chegar aos 100 jogos como seleccionador de Portugal. Apresentado como substituto de Paulo Bento em Setembro 2014, a vida de Fernando Santos, já de si cheia com a passagem pelos três grandes (FC Porto, Sporting e Benfica por ordem cronológica) e ainda a selecção grega no Euro-2012 mais Mundial-2014, dá uma volta interessante e chega esta quinta-feira à centena de jogos.

O adversário é a Chéquia, para a terceira jornada da fase de grupos da Liga das Nações, no José Alvalade, onde Portugal continua sem sofrer golos na primeira parte desde a estreia, em 2004. Daí para cá, 13 jogos. Incrível. Mais incrível é o número de Fernando Santos. Repetimo-nos, 100 jogos. É obra. Com um total de 61 vitórias, 23 empates e 15 derrotas. É obra de mestre, acrescentamos. Golos marcados, 204. O maior é Ronaldo, 67 – o segundo classificado deste ranking só tem 19 e é André Silva. O balanço é positivo, seja em estatística e resultados, com os dois títulos (Euro-2016, Liga das Nações-2019) e a inédita presença na Taça das Confederações (2017).

Este texto trata de falar das vitórias vs campeões mundiais, um acontecimento raro na vida de qualquer selecção e também glorioso para qualquer seleccionador. Fernando Santos acumula três, vs Argentina, Itália e França, nenhum deles em casa (amaziiiing). A epopeia começa em Novembro 2014, dia 18, uma terça-feira, em campo neutro (Old Trafford). Com Beto à baliza, Portugal nunca perde. 

Pela décima vez, a tradição mantém-se. Com muita felicidade à mistura, é verdade. Tanto porque a Argentina ameaça muuuuito mais vezes a baliza portuguesa sem ser devidamente recompensada e também porque o golo do suplente Raphaël Guerreiro cai do céu, aos 90’+2. Literalmente. Senão, veja lá bem: remate de Adrien à entrada da área contra o corpo de Éder e a bola perde-se pela direita, onde Quaresma saca um cruzamento perfeito para o cabeceamento do número 13, o tal que já marcara em Old Trafford por ocasião de um Portugal-Bulgária no Mundial-66 (Eusébio).

Antes, tudo é triste. Quer dizer, com Ronaldo e Messi em campo, a magia funciona aqui e ali. Mal a dupla sai de cena, ao intervalo, o jogo entra num ritmo exasperante, um hino ao bocejo ilimitado. Aquilo nem anima com as entradas de Jonathan (Sporting) e Gaitán (Benfica). Vale a magra vitória sobre a Argentina, a segunda de sempre em oito jogos e a primeira desde 1972, em dia de três estreias (Tiago Gomes, José Fonte e Adrien).


Adeptos assistem ao jogo dos quartos-de-final entre República Checa vs Portugal, no Euro 2012, que ditou a vitória da seleção lusa.
Portugal, está na hora do checo-mate
Para trás, há toda uma linha temporal de proezas inacreditáveis e golos improváveis entre Portugal e a República Checa.

Sete meses depois, em Junho 2015, dia 16, outra terça-feira, outro campo neutro, agora Genebra, 1:0 vs Itália. Lembra-se onde estava a 22 Fevereiro 1976? Se a resposta é José Alvalade, é um sortudo por ter assistido ao bis de Nené à Itália. Daí para cá, no confronto directo, 11 jogos e zero vitórias em 39 anos de bola. Mais, dessas zero vitórias, só um empate (0:0 em 1992 nos EUA para a US Cup). O balanço é confrangedor. Para fechar a época desportiva 2014-15, Portugal e Itália combinam um particular na Suíça.

À falta dos protagonistas (sem Buffon nem Ronaldo, ambos capitães), sobra a emoção. Para já, há um jogador do Marítimo no 11 (Danilo), algo que não acontece há 20 anos, com a dupla Vado-Paulo Alves. Depois há o espectáculo Éder. Ao 18.º jogo na selecção, o avançado do Braga marca finalmente o primeiro golo. E que golo. Eliseu, que substituíra Coentrão por lesão aos 24 minutos, vai por ali fora e ultrapassa dois italianos antes de lateralizar para Quaresma, cuja trivela bem calibrada apanha Éder na cara de Sirigu. O pontapé é fulminante, por alto. Eis o segundo golo do Braga na selecção, após o de Dito à RFA em 1983. Éder, fixe bem este nome.

Pois é, fixe-o. É dele o golo solitário na final do Euro-2016, a 10 Julho, um domingo, no Stade de France. No outro lado do relvado, a favorita França. Favorita por estatuto, história, estatística e até jogo jogado nesse Euro (acabara de eliminar a Alemanha por tranquilo 2:0). Portugal enche-se de brio e dá a volta aos acontecimentos com pompa e circunstância. Que noite, que magia, que encanto. Portugal é campeão da Europa, graças a um golo de Éder, numa noite em que o capitão Ronaldo é substituído aos 28 minutos, por falta imprevidente de Payet.

A França carrega très bien e até poderia ter evitado o prolongamento, não fosse Patrício com quatro defesas do outro mundo e ainda o poste, num remate de Gignac em cima dos 90’. De suplente para suplente, Éder tem a palavra. Um minuto depois de Guerreiro acertar uma bola na trave, de livre directo, o número 9 português domina, afasta Koscielny e atira com o pé direito, bem de longe. Lloris reage tarde, Portugal celebra até às tantas.


Conta-me como foi da bola
Efemérides e histórias caricatas do futebol pelo jornalista Rui Miguel Tovar.

Que noite, que magia, que encanto. Islândia, Áustria, Hungria, Croácia, Polónia, Gales e França. Nenhuma derrota em sete jogos, três deles com prolongamento e um dos quais resolvido nos penáltis. Eis o meritório percurso da selecção portuguesa, rumo ao inédito título de campeão europeu. Patrício acaba o Europeu sem sofrer qualquer golo nos últimos 328 minutos. À sua frente, o quarteto só se define a partir dos oitavos-de-final com Cédric e Raphaël nas alas mais Fonte e Pepe no meio. À sua frente, William bem ajudado por Adrien, João Mário e Renato. No ataque, Ronaldo defende mais que nunca e Nani faz de 9. Os suplentes Quaresma e Éder saltam do banco para evitar os penáltis vs Croácia e França. Somos campeões, vamos à Taça das Confederações-2017. A Europa é nossa.

(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)

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