Portugal vs. Suíça. Um bicho de sete cabeças
Portugal vs. Suíça. Um bicho de sete cabeças
Qatar, o primeiro Mundial no Médio Oriente. Qatar, o primeiro Mundial em que o anfitrião é eliminado na fase de grupos sem qualquer ponto. Qatar, o primeiro Mundial em que o vencedor do jogo da abertura (Equador) é eliminado na fase de grupos. Qatar, o primeiro Mundial em que os cinco continentes marcam presença nos oitavos-de-final. Qatar, o primeiro Mundial em que o capitão português manda bocas ao seu treinador.
Bizarro, inexplicável e, acima de tudo, má educação. Não faz sentido o comportamento de Ronaldo. Nem o da Federação Portuguesa de Futebol naquele plot feito em cima do joelho para mascarar uma situação caricata e completamente desajustada.
Por falar em mascarar, quem planta a notícia de Ronaldo como reforço do Al-Nassr em dia de conferência de imprensa de Fernando Santos? É preciso pachorra.
Santos diz de sua justiça e manifesta-se contra as palavras abusadas do capitão. Numa primeira instância, aplaude-se o gesto e o corte do mal. Agora se é o corte do mal pela raiz ou não, isso só se saberá a uma hora do jogo, quando a FPF divulgar o onze vs. Suíça. Se Ronaldo joga ou não, eis a questão.
Pois é, hoje há jogo vs. Suíça. É a quarta experiência de Portugal nos oitavos-de-final de um Mundial, a terceira com um representante da UEFA. Nas outras duas, ying e yang. Em 2006, Portugal elimina a Holanda no tal jogo histórico pelo pior motivo, o da indisciplina, entre 16 cartões amarelos e quatro vermelhos para tão-só 25 faltas. O russo Valentin Ivanov é o árbitro desse atribulado 1:0 em Nuremberga.
Antes do golaço de Maniche, já Boulahrouz afastara Ronaldo do relvado com uma entrada rija para satisfação do seleccionador Van Basten, cuja táctica é a de eliminar o português mais criativo. Depois, é um festim de nandrolona à solta. A imagem mais engraçada de 90-e-tal minutos de escárnio e maldizer é a de Deco e Van Bronckhorst, companheiros no Barcelona e dois dos quatro expulsos, sentados lado a lado, à entrada para o túnel de acesso do balneário.
Quatro anos depois, Portugal apanha a Espanha na Cidade do Cabo. Sem qualquer golo sofrido na fase de grupos (0:0 vs. Costa de Marfim, 7:0 vs. Coreia do Norte e 0:0 vs. Brasil), a selecção portuguesa entra em campo para jogar com a Espanha, campeã europeia em título. Queiroz mantém Ricardo Costa a lateral-direito e reinventa o ataque com as entradas de Hugo Almeida e Simão para os lugares de Danny e Duda. Longe de ser um jogo bonito, o primeiro sinal de perigo é de Villa, cujo remate é repelido por Eduardo com dificuldade. Segue-se um remate forte de Tiago para uma defesa atípica de Casillas para trás. O capitão espanhol apercebe-se rapidamente do equívoco e salva um golo certo de Hugo Almeida com uma palmada na bola para longe da área.
A segunda parte é mais mexida, culpa da entrada de Llorente, que perturba o sistema nervoso de Portugal. Um cabeceamento seu é defendido in extremis por Eduardo, que sofre o primeiro e único golo no Mundial por obra de Villa. O avançado ganha posição a Simão e, à segunda tentativa, indica o caminho do título à Espanha. Até final, Portugal mantém-se longe da baliza de Casillas e só se faz notar com a expulsão de Ricardo Costa.
Agora é a Suíça, em Lusail, palco da final do Mundial no dia 18. O favoritismo é de Portugal, primeiro classificado do grupo H e com mais nomes artísticos no onze – até no banco. Só que a Suíça é um bicho de sete cabeças. No último jogo entre as duas selecções, por exemplo, em Junho último, dá Suíça com 1:0 de Seferovic. No último Europeu, outro exemplo, a Suíça elimina a França e só é travada pela Espanha nos ¼ final, e nos penáltis. Só para acabar, a Suíça tem mais vitórias no confronto directo (11 contra 10). Nos golos, empate a 34.
Bicho de sete cabeças, insistimos. No único jogo em campo neutro, como o de hoje, a Suíça ganha 2:1. É o jogo do tudo ou nada para o Mundial-38. Calha em sorte a Arena, em Milão, um campo em forma elíptica com capacidade para 35 mil adeptos. É um jogo rico em emoções e o apuramento da Suíça é uma injustiça tremenda pela superior capacidade da selecção em criar oportunidades de golo.
Veja-se bem, Portugal atira três bolas ao poste e uma à trave. Quatro. É dose. Uma delas, curiosamente a última, é um penálti falhado pelo especialista Cruz. Da recarga, nada feito. Antes, os azarados fazem-se apresentar por Pinga, Mourão (com a baliza aberta) e Soeiro (a bola ainda bate no chão e até dá a impressão de ter ultrapassado a linha). A caminho dos balneários, a desilusão é total. Diz o capitão Gustavo Teixeira: ‘Os aplausos do público provaram a nossa superioridade.’ E o capitão suíço Minelli ajuda mais ainda. ‘Foi um alívio ouvir o apito final.’
Na folha de serviço, os golos suíços pertencem a Aebi (24’) e Abegglen III (29’). O de Portugal é de Peyroteo, aos 72’. A ver se hoje Portugal remata tanto como em 1938 e acerta mais. Para tal, é preciso espantar a maldição de 3.ª feira, um dia em que Portugal acumula quatro jogos de Mundial sem qualquer vitória (Costa do Marfim 2010, Espanha 2010, Alemanha 2014, EUA 2014), A última alegria é em 1986, com o tal golo de Carlos Manuel vs. Inglaterra em Monterrey. Antes, Portugal é eliminado pela Inglaterra em 1966 também a uma 3.ª feira, o mesmo dia da semana em que afasta o Brasil desse Mundial com um inequívoco 3:1 em Liverpool.
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