Portugal vs. Marrocos, take 3
Portugal vs. Marrocos, take 3
Portugal vs. Espanha? Queeeeerias, batatas com enguias. No final da fase de grupos, a perspectiva de um clássico ibérico para os ¼ final ganha força. É só preciso activar o favoritismo no papel e já está. Entre Espanha e Marrocos, há dúvida? Entre Portugal e Suíça, dúvida há?
À tarde, a Espanha enrola-se no seu futebol e não acerta uma. Nem sequer nos penáltis: três remates, zero golos (o primeiro bate ao poste, os outros dois esbarram na competência do guarda-redes Bono). Avança Marrocos, desejoso de ser o primeiro país africano a chegar à ½ final de um Mundial. À noite, Portugal sela a superioridade com inequívoco 6:1 em Lusail, palco da final no dia 18. Há golos para todos os gostos, três dos quais pertencem a Gonçalo Ramos, titular pela primeira vez ao serviço da selecção e, já agora, melhor marcador de todos os 26 convocados por Fernando Santos na época 2022-23, com 14 golos, todas as competições incluídas.
Portugal vs. Marrocos. Assim é que é falar. Que dupla, dois países irmãos no futebol. Hajri é o primeiro marroquino a chegar a uma final europeia, através do Benfica vs. PSV em 1988. Hassan é o primeiro marroquino a sagrar-se melhor marcador de um campeonato europeu, ao serviço do Farense em 1995. E portugueses em Marrocos? O rei é José Romão, campeão nacional pelos dois rivais de Casablanca.
O primeiro título é em 2006, mais precisamente a 25 Maio, com três jornadas de antecipação, tal o avanço de inalcançáveis 10 pontos do WAC sobre o Olympique Khouribga, segundo classificado. O jogo do título é um acerto de calendário, precisamente vs Raja. Acaba 1:1 o centésimo dérbi de sempre e o WAC solta finalmente o grito de campeão ao fim de 13 épocas.
O segundo título é em 2009, mais precisamente a 31 Maio, a uma jornada do fim, com a vitória 1:0 vs Chabab Mohammedia. Basta o empate, só que Romão quer impressionar tudo e todos. ‘O Raja não era campeão há cinco anos e esteve quase para descer há dois. Por isso, o título é importantíssimo para revitalizar o clube e aproximá-lo dos outros rivais marroquinos.’ Só para a estatística, o Raja acumula o melhor ataque (44) e a defesa menos batida (17).
Portugal vs. Marrocos é hoje à tarde, a expectativa é imensa. No currículo, dois jogos nos Mundiais e uma vitória para cada. A estreia é em 1986, no México. É a terceira e última jornada da fase de grupos e tanto Portugal como Marrocos somam dois pontos contra um de Inglaterra e três da Polónia. Atenção, falamos de uma época em que quatro dos seis terceiros classificados também se apuram para a fase seguinte. Se Marrocos e Portugal empatam, fazem três pontos e embalam.
Na véspera do jogo no Estádio 3 de Marzo, a conferência de imprensa de Marrocos está a cargo de José Faria, brasileiro de nascimento e seleccionador de Marrocos desde 1983. No final da dita, José Faria aproxima-se dos jornalistas portugueses, devidamente acompanhado por um dirigente da federação marroquina e o seu adjunto Jordan Vieira, também brasileiro (e campeão da Taça da Ásia pelo Iraque em 2007). O recado dos três é simples e dirige-se a José Torres, treinador dos Infantes: vamos jogar para o empate, resultado que elimina a Inglaterra.
O assunto passa dos jornalistas portugueses ali presentes para Amândio de Carvalho, chefe da comitiva na ausência do presidente federativo Silva Resende, quase sempre na Cidade do México, e de Amândio para José Torres. A resposta é negativa. Quando chega o dia do jogo, Portugal entra pela primeira vez com a dupla Gomes e Futre. Os marroquinos voltam a questionar os jornalistas, já sentados na bancada de imprensa, a quatro filas do banco de suplentes. ‘Então, como é que é? O que diz o Torres?’.
Na hora do aquecimento, o tal Jorvan Vieira aborda José Torres. Em vão. Ao intervalo, 2:0 para Marrocos com bis de Khairi. O brasileiro José Faria vira-se então para os jornalistas e atira ao ângulo: ‘Este treinador português é burro. Se meteu com os meus meninos e se fodeu.’ Acaba 3:1 para Marrocos, primeira selecção africana de sempre a passar a fase de grupos num Mundial, enquanto Portugal vai para casa mais cedo que o previsto, sem se prestar a atenção devida ao chapéu formidável do suplente Diamantino a fixar o resultado final.
Do México para a Rússia, 32 anos depois. Já estamos em 2018, novamente fase de grupos, agora é a segunda jornada. Portugal faz-se valer do instinto goleador de Ronaldo, autor do madrugador 1:0 de cabeça, após canto conquistado por Bernardo e batido à maneira curta por Moutinho. Do quarto minuto em diante, só dá Marrocos e aí Portugal apresenta Rui Patrício e mais dez, em Moscovo. É o guarda-redes quem segura o madrugador 1:0 de Ronaldo, com duas defesas belíssimas na segunda parte. Marrocos acumula a segunda derrota e sai de cena. É, aliás, a primeira equipa das 32 com bilhete de ida para casa.
Contas feitas, Marrocos atira Portugal para casa em 1986 e Portugal elimina Marrocos em 2018. Agora, em 2022, quem expulsa quem? Se Portugal mantiver o ritmo e a pontaria dos 6:1 vs. Suíça, qualquer adversário sentirá dificuldades para contrariar Gonçalo Ramos e Cª.
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