Portugal. Só duas vitórias na Suíça
Portugal. Só duas vitórias na Suíça
Alguém explica? A Suíça nunca chega a uma final do Europeu ou do Mundial. Nem ½ final. E continua com um registo melhor vs Portugal. Insistimos, alguém explica? Ao todo, 10 vitórias contra nove. Em casa da Suíça, a vantagem é ainda mais larga, e por escandalosa diferença (7-2). Em golos, outra goleada de impor respeito (21:12). Só mais uma vez: alguém explica?
Ninguém. Por isso mesmo, Portugal está obrigado a ganhar hoje em Genebra para equilibrar o balanço entre eles (10-10) e manter a liderança isolada do grupo 2 da Liga das Nações A no início da segunda volta. A selecção portuguesa respira saúde e reúne condições para sair da Suíça com um sorriso largo, algo inédito desde 1989.
Estamos a 20 Setembro, uma quarta-feira. Qualificação para o Mundial-90, em Neuchâtel, no Estádio La Maladière, uma caixa de fósforos cheia de emigrantes portugueses. Futre assina uma das exibições mais consistentes, com o golo de penálti, a assistência para o 2:1 do suplente Rui Águas e um sem número de dribles a dar cabo do pobre lateral Rey. O seleccionador suíço Uli Stielike, antiga glória da RFA, aplaude o génio. “Futre é um fora de série”. Já o libero Geiger vai mais longe: “Futre estava diabólico e parecia maluco”. De facto, Futre semeia o perigo em todos os minutos da segunda parte e já ninguém se lembra do 1:0 de Turkyilmaz, também de penálti, a castigar falta de Nunes sobre Chapuisat.
Daí para cá, Portugal joga mais três vezes na Suíça e nunca mais ganha entre um empate e duas derrotas. O empate é em Março 1993, no quarto jogo de qualificação para o Mundial-94. Portugal apresenta-se em Berna com um líbero (Peixe) mais os laterais Abel Xavier e Semedo. Curiosamente, é esta dupla a criadora do 1:1, com cruzamento da direita para o cabeceamento imparável do número 3 – antes, Semedo (sem rotinas defensivas no FC Porto) deixara-se antecipar por Chapuisat para o golo de abertura. A festa suíça só dura quatro minutos e Portugal agarra-se ao ponto. Vítor Baía é o porta-voz da selecção. ‘Muita gente não acreditava em nós. Mostrámos que somos pessoas dignas, homens que merecemos o maior respeito.’
Esse 1:1 é histórico pelas estreias de Abel Xavier e Rui Costa. E se este último já joga a mil hora no Benfica, o lateral é ainda jogador da 2.ª divisão. É verdade, Queiroz inclui no onze um jogador do escalão secundário e homem feito na Reboleira. Na verdade, Abel faz o seu caminho com tranquilidade. Em 1990, estreia-se na 1.ª divisão como substituto de Rui Alexandre, na Luz. Nesse Verão, ainda com 17 anos e meio, Abel joga a final do Euro sub18, perdida para a URSS de Cherbakov. Às férias, segue-se o trabalho. No Estrela, conhece os métodos de trabalho de Manuel Fernandes (coadjuvado por José Mourinho). E os de Matine. E os de Jesualdo Ferreira. Ya, o Estrela acumula três treinadores. Sinal de desespero, culminado com a descida à 2.ª divisão, na ressaca do 1:1 no Bonfim.
É já como jogador da 2.ª que Abel se sagra campeão mundial sub-20, na Luz. Passa-se 1991-92 e o Estrela mantém-se na 2.ª. Na época seguinte, faz-se goleador. Penafiel em Agosto, Elvas em Novembro, Farense em Dezembro, Aves em Março. É neste mês que Abel recebe a convocatória de Queiroz. E é metido a titular em Berna no tal 1:1.
A visita seguinte à Suíça só calha em pleno Euro-2008. Portugal arruma Turquia e República Checa na fase de grupos e assume a última jornada como um jogo a feições. O seleccionador Scolari anuncia a saída para o Chelsea na véspera do jogo e faz descansar, ao mesmo tempo, oito titulares – só mantém Ricardo, Pepe e Paulo Ferreira. A ousadia vale-lhe mais uma exibição personalizada e um dos resultados mais enganadores de todo o sempre. Veja bem, Pepe acerta na trave aos 18' e o árbitro austríaco (país co-organizador do Euro) anula mal um golo de Postiga por fora-de-jogo inexistente, aos 36'. Ainda na primeira parte, Plautz não vê penálti num atropelo de Magnin sobre Nani.
O futebol ofensivo de Portugal continua a dar que falar na segunda parte com uma bola à barra, aos 52', numa jogada individual de Nani. Só a partir da última meia-hora é que a baliza de Ricardo começa a ser atacada, com Barnetta a falhar um golo certo na pequena área antes de Inler acertar na trave (64'). Seria Yakin a desbloquear o nulo, a passe de Derdyok. E seria também Yakin a fixar o 2-0, de penálti, a castigar falta do capitão Meira sobre Barnetta.
Portugal prolonga a sua agonia na Suíça em 2016, no arranque da qualificação para o Mundial-2018. É o primeiro jogo a sério desde a inédita conquista do Euro-2016 e Portugal dá-se mal, muito mal, em Basileia. Sem Ronaldo, ainda lesionado pela pancada de Payet na tal final, Fernando Santos aposta no 442 com uma única novidade em relação à conquista europeia (Bernardo Silva). No banco, para qualquer eventualidade, João Mário, Quaresma e André Silva. Curiosamente, os três saltam para o relvado, só que já não há qualquer hipótese de salvar Portugal do naufrágio.
A primeira parte da Suíça é francamente superior e coroada com dois golos em sete minutos. O primeiro de Embolo, de cabeça, após defesa incompleta de Patrício num livre de Rodríguez. O segundo de Mehmedi, com um remate colocado, na sequência de uma vertiginosa jogada de contra-ataque desde a perda de bola de Nani em plena área suíça. Para a segunda parte, André Silva e João Mário substituem Éder e William sem alterar o que quer que seja, até porque a Suíça defende-se com categoria e só não ganha para o susto uma única vez, aos 84', quando o capitão Nani cabeceia ao poste. E agora, para quando o ponto de viragem?
Hoje, tem de ser hoje à noite.
O Contacto tem uma nova aplicação móvel de notícias. Descarregue aqui para Android e iOS. Siga-nos no Facebook, Twitter e receba as nossas newsletters diárias.
