Paixão pelo futebol é mais forte do que o vírus?
Paixão pelo futebol é mais forte do que o vírus?
A paralisação do futebol, na maioria dos campeonatos de todo o mundo, há mais de dois meses, coloca incertezas sobre o seu futuro, dentro e fora de campo, e o Grão-Ducado não é exceção. Sem saber como e quando a bola voltará a rolar, os bastidores preparam-se para as mudanças a todos os níveis, principalmente devido às dificuldades a nível financeiro
Diogo Pimentel, jogador português de 22 anos que acabou de trocar o Etzella pelo Fola, garante que é otimista por natureza. Cumpre à risca as precauções e joga à defesa contra a pandemia. Acredita que a situação vai melhorar e afirma que “a paixão pelo futebol é mais forte que o vírus.”
“É verdade que o futuro da modalidade, aqui ou em qualquer outro país, é uma incógnita. Com todas as limitações que estão a ser impostas, teremos que nos adaptar da melhor forma possível e retomar a nossa atividade”, defende.
“Vamos ter que viver, com as medidas de precaução impostas pelas entidades que gerem o futebol, também com uma possível diminuição de receitas e patrocínios, mas, no fundo, acho que pela grande ’fome’ de bola que temos vai valer a pena fazer sacrifícios.”
“Quem conhece o futebol sabe que o desejo de qualquer jogador é voltar a jogar e estar em campo, porque é aí que nos sentimos bem. Compreendo que a saúde vem em primeiro lugar e existe necessidade de serem tomadas medidas de proteção para todos, mas temos de olhar em frente e continuar a fazer aquilo de que mais gostamos”, precisa o jovem médio que nasceu em Beja e veio para o Luxemburgo com os pais quando tinha 8 anos.
“Estou ansioso por começar a treinar e a jogar. Preparo-me mentalmente para cumprir um sonho que é o de jogar o acesso à Liga dos Campeões, algo que marca um jogador para sempre e proporciona outra visibilidade. Estou bastante motivado e pronto para dar o meu melhor. Não escondo que o meu sonho é poder vir a ser jogador profissional e esse é o objetivo no qual me quero focar”.
Fosso entre clubes vai acentuar-se
Carlos Fangueiro, treinador de futebol que nas últimas temporadas orientou o Union Titus Pétange, teme que “nada volte a ser como dantes” e explica porquê.
“Este vírus é bastante imprevisível. Nunca tínhamos vivido uma situação destas e apesar de as coisas estarem a melhorar bastante, temos de regressar com cautela porque ainda não podemos declarar vitória sobre a pandemia”, lembra o jogador que também se insurge contra os jogos à porta fechada.
“Jogar sem ninguém nas bancadas é completamente desolador. Sem o calor do público que dá cor e emoção à competição, a motivação dos jogadores não pode ser a mesma”, vinca, e prossegue o raciocínio: “A crise veio enfraquecer todos os setores da economia e o futebol não é exceção. Se nas maiores Ligas os grandes clubes sentem dificuldades, imagine-se no Luxemburgo, onde o futebol é amador. Eu sou um viciado do futebol e não sei viver sem ele, mas tenho de concordar que a situação não está nada fácil.”
Sobre o capítulo financeiro, o treinador português que na próxima temporada vai assumir o comando do F91 Dudelange, foi perentório: “Excetuando uma ou outra equipa que têm patrocinadores com grande poder económico e aquelas que asseguram um lugar nas competições europeias, as outras vão andar a contar os tostões todo o ano”, refere, Fangueiro, alertando para outras consequências da crise financeira.
“Os valores dos contratos dos jogadores e treinadores vão baixar, porque se os meios financeiros forem escassos, a qualidade do campeonato ressente-se. Acredito que o fosso entre os clubes ricos e os pobres vai acentuar-se ainda mais e isso não será bom para ninguém.”
Elogia o Executivo grão-ducal na forma como tem gerido a crise sanitária e expressa o desejo de que os responsáveis encontrem a solução para que o futebol regresse aos estádios.
“Felizmente o Governo tem feito um excelente trabalho no que respeita à saúde no país. A situação está bem encaminhada e agora só falta encontrar as medidas certas para que o futebol regresse em força para a alegria de todos”.
Aposta na formação é a melhor opção para os clubes mais pobres
Tony Costa, dirigente do Hamm Benfica, alinha pelo mesmo diapasão de Carlos Fangueiro, mas vai mais longe do que o compatriota no que respeita a soluções para o futebol luxemburguês.
“Esta crise saninária veio enconstar ainda mais os fracos à parede. Os clubes que lutam diariamente para sobreviver vão ser obrigados a encontrar soluções porque nesta altura, a última coisa que certos patrocinadores vão fazer é meter dinheiro aos clubes. Por isso, a solução é recorrer à formação de jogadores, valorizá-los e trabalhá-los ao máximo”.
“É essa a grande aposta do nosso clube e a melhor solução para quem não se encontra propriamente a nadar em dinheiro. Se tivessemos um patrocinador que nos oferecesse jogadores, a música era outra, mas no Hamm temos de ser inteligentes e aproveitar da melhor forma os nossos recursos”, conclui o dirigente encarnado.
Futebol ainda sem datas para regressar no Grão-Ducado
Costuma dizer-se que futebol sem adeptos não é nada. Que o diga Carlos Fernandes fervoroso adepto do FC Differdange e já não sabe o que é um desafio no Luxemburgo há meses.
“Estar em casa tantas semanas é difícil, mas sem jogos ainda é mais. O que me incomoda é que a Federação Luxemburguesa de Futebol terminou o campeonato e ainda nem se sabe quando é que as equipas podem começar a treinar. Com as competições europeias por disputar, as dúvidas são muitas. Vamos ver quais as soluções que a nossa federação apresenta, mas acredito que nada será como antes”.
Em muitos países os campeonatos já acabaram, noutros continua-se a jogar. De todos os que pararam, a Alemanha é o único país onde já se regressou à competição, mas em várias das provas mais cotadas já se conhecem as datas para terminar as respetivas Ligas. Em Portugal, a elite do país regressa aos relvados a 3 de junho, mas no Luxemburgo tudo continua no segredo dos deuses. Até quando?
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