O exemplo mais aberrante da 1.ª divisão
O exemplo mais aberrante da 1.ª divisão
Glória, três treinadores portugueses confirmam as suas capacidades. Aliás, há alguns que reforçam essa capacidade. Alguns ou todos? Bem visto, vamos lá ver. Leonardo Jardim é campeão francês pelo Monaco em 2017. Rúben Amorim é campeão português pelo Sporting. E Abel Ferreira é campeão sul-americano pelo segundo ano seguido, algo inaudito desde 2001 (Carlos Bianchi, Boca Juniors). Afinal, bem vistas as coisas, todos os três reforçam o seu nome por esse mundo fora e fazem-se notar pela extraordinária capacidade de liderar um grupo de egos para atingir o pico da emoção.
O problema é o futebol português em si. E a falta de tudo, desde verdade, diálogo e atitude. A culpa é de todos e, no fundo, de ninguém. A culpa morre solteira porque ninguém se assume, ninguém se chega à frente. Lavam-se as mãos, como Pilatos, e assobia-se para o lado na esperança de que os dias passem. Falamos, claro, do B sad-Benfica. Só o nascimento do B sad daria para um artigo de fundo, com caracteres ilimitados. Adiante, vamos mas é aos factos: o B sad entra em campo para esgrimir argumentos vs Benfica com nove jogadores. Nooooveeeeee. É futebol de 11, caramba, como é possível a Liga aceitar o início de um jogo de nove contra 11?
Quando os vejo a entrar no Jamor, vem-me à memória um jogo de juvenis em Dezembro 2018. Como o Vila Velha de Ródão só apresenta oito jogadores, o Covilhã reduz o efectivo de 11 para oito. 'Sabendo as condições do nosso adversário, estaríamos a ir contra o princípio desportivo'. Quem fala assim não é gago. Chama-se José Rosa, é o treinador do Covilhã. A meio do jogo, um jogador do Vila Velha de Ródão lesiona-se e sai. O que faz José Rosa? Tira um dos seus e joga-se um 7 para 7. Acaba 13:0 para o Covilhã e a verdade desportiva nunca é beliscada.
No Jamor, a verdade é beliscada, dizimada, torturada. Dos nove jogadores do B sad, há dois guarda-redes. Desses nove, só um é do plantel principal – todos os outros pertencem aos sub23. O Benfica tira proveito da situação e marca sete golos na primeira parte, com destaque para o autogolo de Kau aos 25 segundos e ainda o hat-trick de Darwin, a quem lhe anulam mais dois golos por fora-de-jogo. O B sad encaixa o golpe e demora-se no balneário durante o intervalo. Quando o árbitro Manuel Mota desce às cabinas e chama os jogadores, o espanto é geral: dos nove, só aparecem sete. No primeiro minuto, João Monteiro (o tal guarda-redes transformado em jogador de campo) faz um remate e cai. Entra a equipa médica e João tem de sair. Com seis, o árbitro é obrigado a acabar o jogo antes de tempo. O número mínimo de jogadores é sete. Pela primeira vez na história, um jogo da 1.ª divisão acaba aos 47 minutos. O resultado é 0:7. A caterva de golos é um problema, porque influi na classificação geral hoje, amanhã e no final da época. Ou seja, desvirtua-se por completo a 1.ª divisão.
Naquele que é o caso mais sujo de sempre do futebol português, a Liga opta por laurear a pevide no sábado à noite e ressacar no domingo antes de pegar o touro pelos cornos na 2.ª feira.
O jogo é interrompido por falta de jogadores aos 47 minutos. Devem ser uma nove-e-tal da noite. É sábado. E o que faz a Liga? Marca uma reunião para debater o problema na 2.ª feira. Ou seja, daí a 36 horas. Naquele que é o caso mais sujo de sempre do futebol português (bem à frente de erros grosseiros de arbitragem, motins provocados por adeptos, subornos etc e tal), a Liga opta por laurear a pevide no sábado à noite e ressacar no domingo antes de pegar o touro pelos cornos na 2.ª feira com uma reunião dita de emergência. Se fosse eu, já teria ido buscar o senhor José Rosa à Covilhã e nomeá-lo presidente da Liga à laia de qualquer indignado.
(Autor escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico.)
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