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Mundial2022. Turquia, um perigo à espreita
Desporto 6 5 min. 24.03.2022 Do nosso arquivo online
Portugal-Turquia

Mundial2022. Turquia, um perigo à espreita

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Mundial2022. Turquia, um perigo à espreita

Foto: Miguel Riopa/AFP
Desporto 6 5 min. 24.03.2022 Do nosso arquivo online
Portugal-Turquia

Mundial2022. Turquia, um perigo à espreita

Rui Miguel Tovar
Rui Miguel Tovar
Arranca o play-off com uma noitada no Dragão, onde a selecção não perde desde 2004.

Vitória, empate, vitória, vitória, vitória, vitória, empate, derrota. Eis-nos aqui, no play-off. Num grupo acessível com Sérvia, Irlanda, Azerbaijão e Luxemburgo, a selecção portuguesa consegue o improvável segundo lugar, atrás da Sérvia, com a qual perde em casa no último minuto do último jogo, cortesia Mitrovic, de cabeça, ao segundo poste.

É uma sensação de vazio completo, primeiro o empate em Dublin (com expulsão de Pepe) e, três dias depois, a derrota vs Sérvia, ainda por cima com a vantagem do 1:0 de Renato Sanches logo aos dois minutos. Melhor arranque seria impossível, certo? Só que Fernando Santos saca da sua nuvem negra e Portugal recua, afasta-se da baliza sérvia e, puuuuum, toma lá um golpe de teatro. Salva-se o play-off. Ou não. Turquia e Itália (ou Macedónia do Norte) impõem respeito, mil e um cuidados, embora o Dragão seja uma casa portuguesa, com certeza.

Primeiro a Turquia, já hoje à noite. O último Euro corre-lhes mal, muito mal. É; aliás, a pior selecção das 24 em prova com zero pontos em nove possíveis e ainda um desastroso 1:8 em golos (quase quase ao nível da Macedónia do Norte, 2:8). Vai daí, a federação nomeia o alemão Stefan Kuntz como seleccionador. O homem tem estrelinha: como internacional alemão, é campeão europeu em 1996 (marca o golo do empate vs Inglaterra, em Wembley) e zero derrotas em 20 internacionalizações (é um recorde nacional); como treinador, é bicampeão europeu sub21 vs Espanha em 2017 e Portugal 2021.

Pelo meio, é presidente do Kaiserslautern, clube do seu coração e com o qual se sagra campeão alemão em 1991, ano em que é eleito o melhor jogador alemão, à frente de Klinsmann, Matthäus, Hässler e outros que tais. É nomeado seleccionador da Turquia em Setembro 2021 e o resultado é vantajoso, com três vitórias e um empate em quatro jogos. No seu regresso ao Porto. Espera lá, regresso? Ah pois é, Kuntz joga uma vez pela Alemanha nas Antas, ainda Antas, em Fevereiro 1996. É um particular de olho no Euro-96 e Kuntz divide o ataque com Klinsmann. Nem um nem outro enganam Vítor Baía, só mesmo Möller. E em dose dupla, o médio marca o primeiro e o último da noite, intercalado pelo momentâneo 1:1 de Folha.

Muito bem, Kuntz tem vantagem no Porto. Para já, para já. Portugal conta com uma caterva de jogadores para lhe fazer frente e acabar com as veleidades. Diogo Jota, 19. Ronaldo, 18. André Silva, 15, Gonçalo Guedes, 13. Rafael Leão, 11. Bernardo, 10. Seis jogadores convocados por Fernando Santos para o play-off acumulam 10 ou mais golos na presente época 2021-22. Há outros também com fama e proveito de remate fácil, como Bruno Fernandes (9) e João Félix (8). Nem todos cabem no onze, lógico. Santos tem a ingrata missão de deixar uns de fora para o que der e vier, porque a Turquia é daquelas incógnitas capazes de provocar estragos.

Sem ir mais longe, basta recordar o último jogo entre as selecções, em Junho 2012, na Luz, com 3:1 para a Turquia. Falta só uma semana para a estreia no Euro e a Turquia alimenta mais dúvidas que nunca sobre a equipa de Paulo Bento numa tarde/noite em que Portugal até nem merece perder pelo caudal de jogo ofensivo e pela mão-cheia de oportunidades. Os turcos, esses, aproveitam tudo. Na primeira parte, um remate à baliza, um golo: contra-ataque pela esquerda e Bulut antecipa-se a Coentrão na pequena área para o 1:0.

Antes do intervalo, Ronaldo faz dois túneis bem bonitos, um a Altintop (41'), outro a Demirel (45'+1). Cada qual é meio golo, falta a outra parte. Aos 52', Miguel Veloso e Bruno Alves passeiam a bola em zona proibida e permitem o roubo de Bulut para o 2-0. Aparece então Nani, a reduzir com um remate cruzado. No quadradinho seguinte, penálti de Emre sobre Miguel Lopes. Chamado a bater, Ronaldo atira e Demirel defende. Continua a saga maldita do capitão, na primeira derrota da selecção na Luz desde a final do Euro-2004. Para acabar, o anedótico 3-1 na própria baliza: Ricardo Costa quer anular o autogolo de Pepe e confirma-o com uma bolada contra a barriga do número 3. Três, acaba 1:3.

Dez anos depois, Portugal vs Turquia no Dragão. Agora é a valer e uma derrota é impensável. Implicaria a saída imediata, sem direito à final de 3.ª feira. E implicaria o adeus a uma sequência mágica de 11 fases finais seguidas, entre o Euro-2000 e o Euro-2020-em-2021. O último evento sem Portugal é o Mundial-98, por culpa da Alemanha (de Kuntz) e Ucrânia. Há que manter a calma e assumir o favoritismo, além do protagonismo, claro está.

Em situação de crise, vale sempre a pena relembrar a enorme vantagem nos play-off em Mundiais, com quatro vitórias em quatro jogos distribuídos vs Bósnia na era Carlos Queiroz (1:0 na Luz, 1:0 em Zenica) e vs Suécia na era Paulo Bento (1:0 na Luz, 3:2 em Estocolmo). Dos seis golos, os quatro últimos pertencem a Ronaldo, todos a caminho do Brasil-2014.


Conta-me como foi da bola
Efemérides e histórias caricatas do futebol pelo jornalista Rui Miguel Tovar.

 Os outros dois são de Bruno Alves e Raúl Meireles – esse mesmo, o rei das tatuagens tatua Portugal na África do Sul-2010 numa noite em que os bósnios escolhem um batatal cheio de buracos e tufos para dar a volta ao texto. Nada feito. Mesmo sem três indiscutíveis como Bosingwa, Deco e Ronaldo, a portugalidade dá sinais de si. É obrigatório repetir hoje o feito sem a dupla de centrais Pepe e Rúben Dias num estádio talismã para Portugal, sem derrotas desde a estreia em 2004 (vs Grécia). Daí para cá, sete vitórias e três empates.

(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)

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