FC Porto vs Tondela. Quem é super, quem é?
FC Porto vs Tondela. Quem é super, quem é?
Convenhamos, o futebol português é dos mais previsíveis do mundo. Na história da 1.ª divisão, desde 1935 até aos nossos dias, só cinco campeões nacionais – dos quais dois, só celebram uma vez (Belenenses 1946, Boavista 2001). Na história da Supertaça, o registo é igualmente triste, com cinco vencedores em 41 edições. Mais enfadonho ainda, o último clube não-grande a levantar o caneco é o Boavista em 1997.
Mil-nove-e-noventa-e-sete? Isso mesmo, é uma façanha do século passado. Mora lá bem looooonge no nosso coração, na nossa memória, na nossa história. Já há telemóveis e ainda não há redes sociais. Já há Ronaldo, o brasileiro, ainda não há Ronaldo, o português. A selecção nacional ainda só acumula dois Europeus e dois Mundiais no nosso currículo, o Benfica (30) tem quase o dobro dos títulos da dupla Sporting e FC Porto (ambos 16), Marcelo Rebelo de Sousa é presidente do PSD, a malta funciona com escudos, pesetas, liras, marcos, francos, o tamagochi é a loucura mais recente, os filmes da moda chamam-se ‘O Paciente Ingês’, ‘Fargo’ e ‘Jerry Maguire’
Mil-nove-e-noventa-e-sete. Onde é que isso já lá vai. O FC Porto é o campeão em título, com 13 pontos de avanço sobre o Sporting (2.º) e 27 sobre o Benfica (3.º). É a primeira época de António Oliveira na ressaca do Euro-96 e o treinador dá continuidade ao trabalho de Bobby Robson, contratado pelo Barcelona. É também o primeiro tri do FC Porto, numa época com 18 equipas e 17 chicotadas psicológicas – duas no Benfica, uma no Sporting. Na Taça de Portugal, o Boavista acumula duplo 3:2 vs Sporting na ½ (Litos evita o desempate aos 118 minutos) e vs Benfica no Jamor (bis de Sánchez, de livre directo e penálti).
Encontrados os dignos representantes da Supertaça 1997, vamos a isso. Outra situação do século passado, já em desuso, é a eliminatória a duas mãos. A primeira é no Bessa, ainda antes da primeira jornada do campeonato. O Boavista faz jus ao factor casa e dá água pela barba com 2:0 no marcador, cortesia Ayew (59’) e Timofte (62’), o primeiro em jogada de bola corrida, devidamente assistido por Luiz Carlos, o segundo de livre directo, à Timofte, sem dar qualquer hipótese ao guarda-redes Rui Correia.
Quase um mês depois, a 10 Setembro, só quatro dias após o 1:1 entre Alemanha e Portugal de Batta para a qualificação do Mundial-98, o Estádio das Antas recebe a decisão da Supertaça. O público é escasso, a vontade é enorme. O FC Porto entra com tudo para anular a dupla desvantagem e joga em 4-3-3 (Conceição à direita, Jardel no meio, Folha à esquerda). Aos oito minutos, o árbitro Paulo Paraty assinala falta sobre Rui Barros na zona frontal. Chamado a marcar, Fernando Mendes dá-lhe bem e a bola ganha o efeito banana. Ricardo voa para nada. Está feito o 1:0, o FC Porto empolga-se e o Boavista demora a sacudir a pressão.
No quadradinho seguinte, Isaías resolve mal um lance defensivo e isola Jardel. Na cara de Ricardo, o brasileiro acerta no corpo do guarda-redes. A pressão continua até ao intervalo. No outro lado, Rui Correia é um mero espectador. Na segunda parte, a baliza do Boavista é assaltada uma e outra vez. Ricardo defende uma bola cabeceada por Zahovic e vê duas bolas salvas em cima da linha. Um desses lances é o claro sinal de noite não para o FC Porto, porque Jardel mete a bola por entre as pernas de Ricardo e Rui Barros apanha a sobra. O remate é decidido, já dentro da pequena área, e Isaías dá o corpo ao manifesto. É canto, por incrível que pareça.
Os cruzamentos sucedem-se uns atrás dos outros, todos à procura da cabeça salvadora de Jardel. Só que o brasileiro está sem pontaria e a prova mais inequívoca é um remate à queima-roupa com o pé direito ligeiramente por cima da trave sem ninguém a estorvá-lo. Quando o árbitro faz soar o apito final, é o fungagá da bicharada. Sérgio Conceição é o primeiro a insurgir-se contra Paraty e é afastado por companheiros de equipa, como Zahovic. A cena acalma. Só por breves momentos. No ritual dos passou-bem a meio-campo entre as três equipas, Sérgio Conceição volta a estar no centro das atenções com um chega-para-lá ao lateral boavisteiro Paulo Sousa. Serenados os ânimos, o Boavista levanta a (super)taça em pleno relvado e confirma o estatuto de quarto grande no final dos anos 90 – o título de campeão nacional, esse, chegaria daí a quatro anos, em 2001.
Acredite, a Supertaça é uma pasmaceira daí para a frente. Zero tomba-gigantes, com 13 vitórias para o FC Porto, seis para o Sporting e cinco para o Benfica. Ao todo, 24 finais e nem uma migalha deixada pelos grandes para a classe média. E hoje? Mais do mesmo, quase de certeza. O Tondela, agora na Liga 2, aparece em Aveiro como finalista vencido da Taça de Portugal e apresenta Tozé Marreco como sucessor de Nuno Campos a treinador. É um nome engraçado, Marreco. Veremos se endireita o Tondela. Se não for a tempo de provocar uma surpresa vs FCP, o Tondela é só mais um clube na lista dos zero tituli da Supertaça, juntamente com Braga, Vitória FC, Beira-Mar, Belenenses, Estrela, Leixões, U. Leiria, Paços, Académica e Aves. Ufffff, que canseira. Convenhamos
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