Eintracht campeão por tuta e meia
Eintracht campeão por tuta e meia
Impressionante, a moldura humana no Sánchez Pizjuán, em Sevilha. O azul do Rangers e o branco (alternativo) do Eintracht ofuscam o verde da relva. Quando a câmara faz grandes planos das caras dos adeptos acotovelados nas suas bancadas, dá-nos vontade de saltar para dentro da televisão. O sofá, amarelo torrado, é mais a nossa praia. Baaaah, paciência.
A final da Liga Europa é desnivelada pelo superior toque de bola do Eintracht, invicto na campanha europeia com sete vitórias e cinco empates em 12 jogos, seis em fases de grupos e outros seis a eliminar vs Betis, Barcelona e West Ham. Em Sevilha, o Eintracht mexe-se melhor com (e sem) bola, o problema é a falta de pontaria na hora agá. As oportunidades acumulam-se, seja Knauff, Lindström, Kostic, Kamada, Borré. Uma série de figuras arriscam o golo, seja de longe e de perto. McGregor, o guarda-redes de 40 anos, defende com categoria ou vê-las passar – a elas, às bolas.
O Rangers mexe-se melhor sem bola, à conta do seu futebol físico e pouco requintado. Há talento em Tavernier, o capitão e melhor marcador da competição (sim, da Liga Europa, com 8 golos), há querer em Wright e há oportunismo em Aribo. Todos os restantes sete jogadores de campo vestidos de azul correm muito de um lado para o outro, atrapalham imenso quem lhes aparece à frente e fazem pela vida. Atenção, o Rangers chega a Sevilha com mérito maiúsculo: afasta duas equipas alemãs (Borussia Dortmund mais Red Bull Leipzig) e, pelo meio, o Braga. A sua força é o factor casa, no Ibrox. Fora, é assim-assim. E então? William Wallace estaria orgulhoso dos seus heróis do século XXI.
No Sánchez Pizjuán, já palco de uma final europeia interminável em 1986 entre Barcelona e Steaua (0:0 e 2:0 no desempate de penáltis), o prolongamento é algo distante da realidade porque o Eintracht entra forte, determinado e provoca as melhores oportunidades. Ao intervalo, 0:0. No reinício, mais do mesmo. De repente, num lance inofensivo, Tuta escorrega e Aribo aproveita aquela autoestrada para abrir o marcador, com um remate rasteiro à saída de Trapp.
O Eintracht vê-se em desvantagem e continua a carregar, às vezes sem cabeça. Pois bem, é num desses lances espontâneos, saídos do nada, sem trabalho de equipa, que cai do céu o 1:1. Kostic cruza da esquerda para o interior da área e os centrais Goldson-Bassey fazem cerimónia a atacar a bola. Borré, astuto, estica o pé e sai a festejar com cara séria, à frente dos seus adeptos. Ainda faltam 20 minutos para o fim, o Eintracht arrisca mais, o Rangers estuda o prolongamento. E ganha.
Mais 30 minutos extra de futebol movimentado e cheio de cãibras. O cansaço pesa, o poder de decisão diminui e aí, verdade seja dita, o Rangers manda mais. O tal poder físico faz mossa e a melhor oportunidade é aos 118’, por Davis, cujo remate à queima-roupa é repelido por Trapp com a perna direita. Aos 120’+1’, livre directo para o Rangers em zona perigosa e o capitão Tavernier roça o nono golo da sua aventura europeia. Trapp defende a dois tempos.
Chega o enésimo apito de Vincic, vamos para penáltis pela segunda época seguida na final da Liga Europa. Há um ano, é uma maratona de mais de 20 penáltis e tem de ser um guarda-redes a falhar (De Gea, Man United) para entregar a taça ao Villarreal. Em Sevilha, no Sánchez Pizjuán, a responsabilidade é imensa. Em 1986, na final europeia anterior naquele estádio, um senhor romeno chamado Duckadam defende quatro penáltis seguidos e entrega o título de bandeja ao Steaua vs Barcelona.
Acaba 2:0, um resultado inacreditável para um desempate a 11 metros da baliza. Desta vez, tudo diferente e há seis golos nos primeiros seis remates. Ao sétimo, Trapp impede o golo de Ramsey. O Eintracht aproveita o deslize e adianta-se por Kostic. Depois, Roofe estica a corda e Borré sentencia com um remate ao ângulo superior direito de McGregor, precisamente na baliza onde se encontra uma imensidão de camisolas azuis escuras.
O Rangers perde a quarta final europeia da sua história, a primeira desde 2008 (vs Zenit), o Eintracht junta a Liga Europa à Taça UEFA 1980. O Rangers perde uma final europeia em Sevilha, como o arqui-rival Celtic (vs FC Porto 2003), o Eintracht é o segundo pior campeão europeu da história, via 11.º lugar do campeonato alemão desta época (pior pior só mesmo o Schalke 04, também alemão, em 12.º na campanha 1996-97). Palmas para Glasner, tão-só o segundo treinador austríaco a levantar uma taça europeia, na ressaca de Ernst Happel (1970 Feyenoord, 1983 Hamburgo). E um passou-bem a Van Brockhorst, o oitavo holandês a perder uma final. Já agora, e só para acabar, Gonçalo Paciência é campeão da Liga Europa. Suplente em Sevilha, contribui para a conquista com dois golos na fase de grupos, ambos nos descontos, ambos vs Antuérpia, um na Bélgica e outro na Alemanha.
Sob a arbitragem do esloveno Slavko Vincic, eis os actores principais e secundários no Sánchez Pizjuán:
Eintracht: Trapp; Tuta (Hasebe 58’), Touré e N’Dicka (Lenz 100’); Knauff, Sow, Rode (cap) (Jakic 90’) e Kostic; Lindström (Hauge 71’), Borré e Kamada; treinador Oliver Glasner (austríaco)
Rangers: McGregor; Tavernier (cap), Bassey, Goldson e Barisic (Roofe 117’); Lundstram e Jack (Davis 74’); Kent, Wright (Sakala 74’) (Ramsey 118’) e Kamara (Arfield 91’); Aribo (Sands 101’); treinador Giovanni van Bronckhorst (holandês)
Marcadores: 0:1 Aribo (57’); 1:1 Borré (69’)
Desempate por grandes penalidades: Tavernier 0:1, Lenz 1:1, Davis 1:2, Hrustic 2:2, Arfield 2:3, Kamada 3:3, Ramsey (defesa de Trapp), Kostic 4:3, Roofe 4:4, Borré 5:4
(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)
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