Diogo Pimentel, o luso-luxemburguês que gostava de jogar no Sporting
Diogo Pimentel, o luso-luxemburguês que gostava de jogar no Sporting
Há dez anos, Diogo trocou o Alentejo pelo Luxemburgo, para ir ter com o pai. Viajou com a mãe e o irmão mais novo, ele com 14 anos e o caçula com cinco. Também tem uma irmã, que nasceu no Grão-Ducado um ano depois. Ao início, “foi complicado”. Nunca é fácil um jovem adaptar-se a um novo país, nova cultura. Uma nova língua. Mas depois, na escola, “havia sempre um português” e os amigos ajudavam a traduzir.
O alentejano morava em Ettelbruck, mas estudava em Wiltz, a cerca de 25 quilómetros. Foi para uma turma de acolhimento, porque já tinha idade para ir para o liceu, e fez três anos em francês, para adaptação. Depois foi para a Bélgica estudar durante dois anos, até o futebol o chamar de volta ao Luxemburgo. Tinha feito duas épocas no Jeunesse Schieren e ia mudar-se para o Etzella. Pelo clube de Ettelbruck jogou a final da Taça em 2019, que perdeu, e no ano passado, já durante a pandemia, saiu para o Fola Esch.
No primeiro ano na equipa de Esch-sur-Alzette, o médio fez 26 jogos e marcou quatro golos. E foi campeão do Luxemburgo. “A nível individual foi o meu melhor ano”, garante. A grande diferença em relação às épocas anteriores é que Diogo tinha decidido “fazer um ano só de futebol”, depois de conseguir o diploma em administração e contabilidade.
No entanto, apesar do sucesso da última temporada, não alcançou o maior objetivo e teve de mudar os planos. “Não tive a sorte de sair para um clube profissional e então decidi que tinha de começar a pôr dinheiro de lado”.
A estreia que não aconteceu contra Portugal
O plano A do luso-luxemburguês sempre foi tornar-se jogador profissional. Mas, por enquanto, tem de ir conciliando o futebol com o trabalho em contabilidade. Agora, a vida de Diogo é um corre-corre. Mora em Wiltz, acorda cedo para ir trabalhar em Ettelbruck e ao fim das oito horas vai de carro até Esch, para treinar. “São duas horas e meia por dia no trânsito”. Um pequeno preço a pagar em busca do sonho. E os resultados estão à vista. Aos 24 anos, já foi convocado para a seleção do Luxemburgo. Duas vezes.
Em setembro, a estreia pelos ‘leões vermelhos’ foi adiada. Diogo foi diagnosticado com covid-19 um dia antes de se juntar ao plantel para os jogos de qualificação para o Mundial 2022 com o Azerbaijão e a Sérvia. Foi uma frustração. “Fiquei triste, porque estava à espera deste momento há algum tempo”, recorda. Um mês depois, já recuperado do coronavírus, voltou a ser chamado pelo selecionador Luc Holtz.
Desta vez, por ironia do destino, um dos adversários era o seu país de origem, que defrontou na terça-feira, apesar de não ter entrado em campo. “É um sentimento estranho, porque vivi em Portugal até aos 14 anos e agora voltei como jogador luxemburguês”.
Embora ainda não se tenha estreado nos jogos com a Sérvia e Portugal, que o Luxemburgo perdeu, na qualificação para o Mundial 2022, o jovem assumiu que foi uma "experiência muito enriquecedora". "Jogámos contra duas equipas de grande calibre. Infelizmente não conseguimos fazer pontos, apesar de contra a Sérvia termos feito um grande jogo. Com Portugal teve um sabor especial, porque nasci e vivi lá. Foi uma experiência muito boa", contou, salientando que "não é todos os dias" que pode estar perto de jogadores que via na televisão quando era mais novo. "Espero que seja a primeira de muitas".
Diogo revelou ainda que esta primeira participação na seleção lhe permitiu "ver coisas novas e ver o futebol de outra forma". "Permitiu-me estar mais perto do nível profissional. A nível individual dá-me mais força e motivação para continuar a trabalhar mais e melhor e para poder chegar ao patamar mais alto do futebol".
Depois de 10 dias com a seleção, o luso-luxemburguês teve de voltar ao trabalho, que diz ser o "mais difícil", uma vez que ainda não joga a nível profissional. "É algo que ainda me custa um pouco. Quando voltamos é preciso fazer o clique para no dia a seguir ir trabalhar", confessou.
Ficar triste por jogar pelo Luxemburgo e não por Portugal não é algo que lhe passe pela cabeça. “Estar na seleção já foi muito bom. Com o passar dos anos, o Luxemburgo tem evoluído bastante, há cada vez mais jogadores a sair para outras ligas. Por isso, se tivesse ficado em Portugal e se teria sido diferente, nunca vou saber. Não é algo que me entristeça”, afirma.
O sonho da Champions e a paixão pelo Sporting
Quando não joga à bola, Diogo é um jovem de gostos simples. Aproveita o tempo livre para passear com a namorada, com quem vive, ou com a família. “Não sou muito de sair ou ir para a noite”, confessa. É o tipo de mentalidade que um jogador tem de ter para singrar. E este ano, o alentejano quer voltar a ganhar títulos no Fola. “O campeonato está muito melhor e mais renhido, há muito boas equipas, com muito bons jogadores, mas vamos tentar o bicampeonato”.
Depois do Luxemburgo, o jovem quer experimentar outros voos. “Sempre gostei de Inglaterra, mas é difícil. É um campeonato que me apaixona pelo ambiente”. Além disso, o sonho de Diogo é jogar na Liga dos Campeões. “Todos os jogadores ambicionam e sonham com a Champions. É o patamar mais alto. É o auge a nível de clubes. Se gostava? Claro, a 200%. Se vai ser assim? Não sei”.
Sobre um possível regresso a Portugal, o jogador diz que “não fecha as portas a nenhum país. Não digo que não quero ir para a Roménia ou para a Ucrânia. O que vier é bem-vindo. Há que analisar, mas nunca vou fechar a porta a nenhum campeonato”, explica. Porém, se voltasse a Portugal até tinha um clube de eleição, porque é adepto confesso dos ‘leões’. “Gosto muito do Sporting. Portanto, porque não? ”.
Por ora, o que Diogo ambiciona é ter saúde, não ter lesões e poder desfrutar do que mais gosta, que é jogar à bola. “Faz dois anos que fui operado, porque parti a perna direita durante um jogo. E agora estive com o Luxemburgo numa qualificação para o Mundial. Nunca na vida algo acontece por acaso”.
A estreia pela seleção ficou mais uma vez adiada, mas a promessa de uma carreira profissional para o luso-luxemburguês nunca esteve tão próxima.
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