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As excursões ao Qatar
Opinião Desporto 3 min. 28.11.2022
Mundial 2022

As excursões ao Qatar

Marcelo Rebelo de Sousa ao lado do presidente da FIFA Gianni Infantino no jogo entre Portugal e o Gana, no Mundial 2022 no Qatar.
Mundial 2022

As excursões ao Qatar

Marcelo Rebelo de Sousa ao lado do presidente da FIFA Gianni Infantino no jogo entre Portugal e o Gana, no Mundial 2022 no Qatar.
Foto: José Sena Goulão/EPA
Opinião Desporto 3 min. 28.11.2022
Mundial 2022

As excursões ao Qatar

Sérgio FERREIRA BORGES
Sérgio FERREIRA BORGES
Há também um provincianismo saloio neste entusiasmo de fazer uma viagem intercontinental, para ver um jogo de futebol.

A discussão alastrou, esticou-se pelo país inteiro, mas sem ganhar o estatuto de polémica, como alguns jornais quiseram que fosse. Devem ou não os mais altos dignitários da nação acompanhar a selecção nacional, na sua aventura no Qatar?

Eu acho que não e as razões são simples de entender. Existem muitas representações desportivas no estrangeiro, algumas com resultados brilhantes, como sejam títulos mundiais e nem o Presidente da República, ou primeiro-ministro ou o baço presidente da Assembleia da República as acompanharam. Porquê esta excepção para o futebol?

Eu tenho uma resposta. O futebol tem maior cobertura mediática e, por essa razão, garante mais espaço de televisão, rádio e jornais àqueles que, sem vergonha, tentam retirar dividendos da popularidade dos atletas.

(…) se não formos a terras onde se violam os direitos humanos, corremos o risco de não podermos sair de casa.

Mas esta vaidade custa muito dinheiro aos contribuintes. Presumo que os aviões em que se deslocam são do Estado e, por isso, nunca se chegam a conhecer os custos deste turismo futebolístico. Mas para se fazer uma ideia, posso dizer que uma companhia privada de táxis aéreos cobra oito mil euros por hora, incluindo o tempo em que o avião está estacionado à espera do cliente.

Há também um provincianismo saloio neste entusiasmo de fazer uma viagem intercontinental para ver um jogo de futebol. E a desculpa de que a viagem tem o objectivo de apoiar a selecção nacional também não colhe.

Portugal não é o único país a permitir estas viagens caríssimas. Pode até dizer-se que cada vez há mais políticos, das mais diversas nacionalidades, correndo atrás da popularidade dos seus futebolistas, na tentativa de se colarem a qualquer hipotético sucesso desportivo.

Esta prática, se a minha memória ainda é confiável, foi iniciada pelo então Presidente de Itália, Sandro Pertini, que se deslocou a Madrid, em 1982, para assistir à final do Campeonato de Mundo, entre a Itália e a Alemanha. Pertini festejou com enorme exuberância os três golos da sua selecção e, depois, o final do jogo. Foi isso que fez cair em si as atenções dos media, como nunca tinha acontecido, com qualquer presidente italiano. Com isto, os políticos descobriram uma galinha que nem sempre dá ovos de ouro. Convém notar que há políticos, como os reis de Espanha, que se deslocam ao estrageiro, a expensas próprias.

Em 2022, em Portugal, relacionaram-se também as viagens dos políticos, com questões de política interna, do Catar. São as violações dos direitos humanos e a escravatura usada para construir todas as infra-estruturas do mundial.

Subestimo este argumento, apesar de substantivamente verdadeiro. Mas, se não formos a terras onde se violam os direitos humanos, corremos o risco de não podermos sair de casa. E agora, o Catar promete retaliar as declarações precipitadas e mal elaboradas de Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o assunto. 

 (Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)

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