"The Fabelmans". Spielberg e o paraíso do cinema
"The Fabelmans". Spielberg e o paraíso do cinema
Steven Spielberg é um dos raros grandes realizadores que não perdeu nem um pouco da vivacidade e ardor ao longo do tempo. "The Fabelmans" vem confirmar o virtuosismo e constante inovação do americano que não se inibe em utilizar filmagens aéreas, transições musicais modernas, uma montagem cheia de energia e elipses inteligentes para dar o ritmo a uma realização impressionante.
A sinceridade e a paixão de Steven Spielberg está por todo o lado em 'The Fabelmans' com uma delicadeza e sensibilidade verdadeiramente emotivas.
Além disso, "The Fabelmans" está repleto de diálogos divertidos e deliciosas situações cómicas que nos recordam que Spielberg tem um enorme sentido de humor. A confirmá-lo está uma galeria de personagens coloridas e muito engraçadas, como é o caso do tio-avô apaixonado ou da namorada muito pia.
Estas personagens não são apenas um elemento cómico, pois, por trás da sua extravagância transportam ternura e sensibilidade, fundamentais para a história e para o efeito procurado.
Apesar dos seus 75 anos e das quase 40 longas metragens que totaliza, Steven Spielberg ainda mantém a exigência de trabalhar com jovens atores que ainda não tiveram a sua grande oportunidade ou que estão a começar a impor-se.
Todo o elenco transmite energia juvenil, e como o argumento de Steven Spielberg e Tony Kushner assume a estrutura (aparentemente) clássica do filme de adolescentes, esta obra é de uma frescura surpreendente. Mas, lá no fundo, estamos perante um produto de filigrana cinematográfica.
Ao longo da primeira parte da história, Spielberg põe a sua criatividade ao serviço da descoberta do cinema pelo seu protagonista. Um gesto cheio de ternura e delicadeza que se materializa principalmente quando o cineasta mostra a personagem com pedaços de película ou a emocionar-se quando filma tudo e mais alguma coisa.
A desenvoltura e a criatividade de Sammy, o protagonista, fazem inevitavelmente pensar no próprio Spielberg. Ao filmar com energia e paixão os primórdios de um jovem cinéfilo que produz os seus primeiros trabalhos com recursos mínimos, mas muita imaginação, Steven Spielberg regressa às fontes da sua própria arte e presta homenagem aos artesãos do cinema.
O cineasta que nos aterrorizou com apenas um carro, um ator e um camião em "Duel", e que transmitiu ao mundo inteiro um medo visceral de tubarões sem quase nunca mostrar o bicho em "Jaws", lembra-nos que basta uma câmara e algum engenho e arte para realmente criar sétima arte.
A sinceridade e a paixão de Steven Spielberg está por todo o lado em "The Fabelmans" com uma delicadeza e sensibilidade verdadeiramente emotivas.
Se "West Side Story" tinha sido claramente dedicado nos créditos pelo realizador ao seu pai, "The Fabelmans" é um filme feito abertamente para a sua mãe, da qual Spielberg compõe um belíssimo retrato.
O filme é luminoso, apesar da violência que transpira. Talvez porque Spielberg, como um cineasta experiente e pacífico, só agora pode agora abordar o turbilhão íntimo do passado familiar com mão firme, sem sacrificar a precisão do gesto enquanto se reconcilia com amarguras mal (di)geridas.
O cinema de Spielberg é também isto. E deste ponto de vista, "The Fabelmans" não deixa de estar muito perto de outros picos emocionais da sua filmografia, como os finais de "A.I." ou "Always" onde o realizador invocou ou ressuscitou espíritos para lhes dizer, por uma última vez, o amor que lhes guardamos no coração.
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