Óscares 2018. Palmarés politicamente correto
Óscares 2018. Palmarés politicamente correto
Por Raúl Reis - Apesar de o cómico recordar que 2017 ficará para a história como “o ano em que os homens fizeram tanta porcaria que as mulheres começaram a sair com peixes”, referindo-se a “The Shape of Water”, de Guillermo del Toro, já quase todos pareciam ter esquecido que esta era a primeira cerimónia dos Óscares depois da bomba atómica que foi o movimento Time’s Up. Frances McDormand levou o assunto ao palco e polvilhou-o com slogans de igualdade e de inclusão, mas deparou-se com uma certa reticência da plateia quando pediu às mulheres nomeadas para se levantarem. Apesar de tudo, este tornou-se o momento forte da noite, entre discursos em que as mensagens políticas deixaram sobretudo o lugar aos agradecimentos à família (e porque não?).
Frances McDormand protagonizou o melhor dos filmes candidatos a acumularem mais Óscares. “Three Billboards Outside Ebbing, Missouri” arrecadou os prémios para a melhor atriz e para o ator secundário. Frances McDormand e Sam Rockwell são um duo extraordinário na obra que melhor retratou em 2017 a América profunda.
No Luxemburgo eram esperadas boas notícias para “Phantom Thread”, o filme de Paul Thomas Anderson, em que a nova coqueluche nacional contracena com Daniel Day-Lewis. Mas a obra brilhantemente estética, com Vicky Krieps no papel principal, passou ao lado da glória, arrecadando apenas o Óscar para o melhor guarda-roupa (categoria em que concorria o português Luís Sequeira pelo seu trabalho em “The Shape of Water”). “Phantom Thread” partia favorito na categoria, pois conta a história de um costureiro possessivo e obsessivo que vive, obviamente, rodeado de belos vestidos. Esta poderá ser a última vez que vemos Day-Lewis no grande ecrã, mas o britânico deixou o Óscar fugir para as mãos de outro monstro sagrado de Hollywood: Gary Oldman encarnou Churchill, um caminho lógico para levar uma estatueta para casa.
A noite acabou com domínio mexicano. O realizador Guillermo del Toro foi galardoado com a dupla perfeita: melhor filme e melhor realização. Contudo, “The Shape of Water” é uma obra ligeira que qualquer adolescente, apreciador de comédias românticas, vai ver com gosto. Esta reconstituição do eterno mito da bela e do monstro é impressionante do ponto de vista visual mas, infelizmente, sabe a pouco e tem um argumento duvidoso.
O filme “Coco”, que venceu na categoria de animação e do melhor tema musical, passa-se no México, o que fez as delícias dos habitantes do país que fica ao sul do muro de Trump. Esta produção da Pixar/Disney concorria “contra” um filme coproduzido pela empresa luxemburguesa Melusine Productions, “The Breadwinner”.
