Portugal reage à morte de José Mário Branco
Portugal reage à morte de José Mário Branco
José Mário Branco morreu esta terça-feira, aos 77 anos. Nome maior da canção portuguesa, de intervenção e não só, o músico, cantautor, compositor e produtor marcou várias gerações, mas, sobretudo, a que viveu a revolução do 25 de Abril e a transição da ditadura para a democracia.
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa
Isso mesmo foi referido pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações à TSF.
"A minha geração recorda de forma muito viva José Mário Branco", começou por dizer, acrescentando que a sua música "era trauteada e cantada por pessoas de vários quadrantes [políticos]". "O meu quadrante, na altura, como hoje, não era exatamente o quadrante de José Mário Branco, mas aquilo que marcava a sua música era um desejo de mudança profundo, sincero", afirmou o Presidente da República, recordando o "concerto histórico" do músico, a que assistiu, "no Coliseu, já muito próximo do 25 de Abril".
Condecoração a título póstumo
À mesma estação de rádio, o chefe de Estado sublinhou que recebeu a notícia da morte do artista com "muita consternação" e que "o seu desaparecimento representa uma perda", admitindo condecorá-lo a título póstumo. "Ele manifestou sempre, de forma muito bem-educada e discreta, que o que lhe importava era deixar um testemunho e fazer passar a palavra.
O reconhecimento formal era menos importante", mas "se aqueles que lhe são próximos entenderem que não traem a sua memória aceitando esse reconhecimento público, então, obviamente, o que não foi possível fazer em vida será feito postumamente", afirmou.
O primeiro-ministro, António Costa, usou a sua página do Twitter para manifestar "profunda tristeza" pela "perda de José Mário Branco, figura cimeira da música moderna e da cultura portuguesa".
"O primeiro álbum, 'Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades' (1971), foi um prenúncio da Revolução de Abril e de uma obra empenhada e combativa", sublinhou, acrescentando ainda que "a erudição musical de José Mário Branco acolheu vários géneros, sem hierarquias, e estendeu-se a outros artistas". "Não esqueceremos a sua música, a sua inquietação", concluiu António Costa.
Ministra da Cultura, Graça Fonseca
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, também se pronunciou sobre a morte de José Mário Branco. Através de uma curta mensagem na sua conta oficial do Twitter, escreveu que "lamenta profundamente a morte de José Mário Branco, nome maior da #música portuguesa. Voz de luta e de intervenção, o seu legado é intemporal e é património coletivo. Resistir, em #Portugal, terá sempre um disco de José Mário Branco como banda sonora", acrescentou.
Da música à literatura
Figura incontornável da cultura e história recente portuguesas, José Mário Branco tem sido recordado, ao longo da manhã, por personalidades das mais diversas áreas.
Na música, de onde têm surgido grande parte dos testemunhos mais emotivos, o músico tocou diferentes gerações, tanto como colaborador dos seus trabalhos como referência educativa.
Camané, fadista
Camané, que teve arranjos e produção de José Mário Branco em vários discos seus, reagiu emocionado, à RTP, quando recordou a importância que o compositor teve no seu percurso.
“Foi a coisa mais importante que me aconteceu”, afirmou sobre a colaboração entre os dois. O fadista recordou o "artista fantástico de uma dimensão incrível muito para além de um artista de intervenção", que acabou por se apaixonar pelo fado.
Adolfo Luxúria Canibal, músico
Adolfo Luxúria Canibal foi outro dos músicos também lamentou, em declarações à agência Lusa, a morte do “amigo” José Mário Branco, “alguém de quem gostava muito”.
O vocalista escreveu com José Mário Branco uma canção, intitulada 'Loucura', que foi recuperada para um disco de tributo a este, lançado em maio passado.“Estou em estado de choque. É um amigo que se perde”, disse, emocionado, Adolfo Luxúria Canibal, destacando o valor e a importância do compositor para a música e cultura portuguesas.
Irene Pimentel, escritora
A historiadora e escritora, Irene Pimentel reagiu com "enorme tristeza", através da sua página oficial do Facebook. "O Zé Mário, cuja canção 'Eu vim de longe' trauteei como um hino de toda uma geração (...) Uma vez, vinha eu de Jerusalém, encontrei o Zé Mário no aeroporto de Tel Aviv. Tomávamos aviões diferentes, mas fui a conversar com ele distraidamente e a segurança do aeroporto desconfiou, revolveu a minha mala de viagem e fez-me um longo interrogatório. Querido Zé Mário.
Jorge Silva Melo, dramaturgo
"Na mesma rede social, o encenador e dramaturgo, Jorge Silva Melo, recordou histórias do cantor, como forma de o homenagear. "Nunca mais voltei a passar pela Estação de São Bento, no Porto, sem me lembrar deles, do José Mário Branco cantando um romance de cego e do Paulo Rocha, amigos. Sim, um dos mais belos filmes portugueses e uma das mais belas sequências de sempre. Era Cesare Pavese (num texto muitas vezes citado pelo Paulo) que dizia que o dever do escritor era encontrar a personagem que cristalizasse o lugar. O Cego do Zé Mário e do Paulo era isso: aquele lugar para sempre(...)".
Outras personalidades usaram o Instagram para imortalizar, em palavras e imagens, aquilo que José Mário Branco significou e continua a significar para elas.
Veja, em baixo, algumas das mensagens.
Valter Hugo Mãe, escritor
Capicua, cantora e rapper
Linda Martini, banda
Joana Seixas, atriz
Benjamim, músico
Paulo Furtado (The Legendary Tigerman), músico
Carlão, cantor e rapper
Sandra Faleiro, atriz
Moospell, banda
Albano Jerónimo, ator
