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Os Óscares foram rosa-salmão
Opinião Cultura 5 min. 14.03.2023
Cinema

Os Óscares foram rosa-salmão

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Os Óscares foram rosa-salmão

Foto: Frederic J. Brown/AFP
Opinião Cultura 5 min. 14.03.2023
Cinema

Os Óscares foram rosa-salmão

Raúl REIS
Raúl REIS
A noite dos Óscares deste ano foi uma festa pálida e com poucas coisas para cinéfilos.

A noite dos Óscares deste ano foi uma festa pálida e com poucas coisas para cinéfilos. A Maria Rita, que queria vez os vestidos e as farpelas dos convidados, teve mais sorte do que eu que esperava ver mais amostras de Sétima Arte.

Jimmy Kimmel foi o apresentador, em versão descafeinada, de uma noite em que havia um enorme elefante na sala: a chapada de Will Smith a Chris Rock deu à cerimónia do ano passado tipo de atenção que a Academia não queria. 

Kimmel abordou a questão no monólogo de abertura, brincando com o facto de haver cinco atores irlandeses candidatos a estatuetas douradas, o que poderia aumentar as probabilidades de se andar à trolha. 

A Maria Rita não achou graça, adormeceu no sofá, mas eu acordei-a para ela ver o casaco cor de rosa de Dwayne Johnson que, segundo ela era salmão (mas que é que ela sabe de cores que nem mal abriu os olhos). Não foi só esse casaco a dar a impressão de que esta era uma cerimónia em versão adocicada. 

Foto: Emma McIntyre/Getty Images via AFP

Todos os ilustres apresentadores pareciam ter medo de entrar em conflito com quem quer que fosse, assegurando discursos neutros e apenas em honra da Academia e da indústria em geral, como se estivessem a falar no comité de direção de uma multinacional. (Entretanto, a Maria Rita adormeceu para acordar, como por magia, no momento do prémio das curtas metragens de animação: o João Gonzalez ganhou? Não, infelizmente não. Ela virou-se para o outro lado do sofá e voltou a adormecer, sem ligar nenhum aos meus apelos para que fosse para a cama).


"Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" vence os Óscares e faz história
Foi o filme mais premiado desde "Quem Quer Ser Bilionário", em 2008.

Mas recuemos duas horas no tempo: Jimmy Kimmel era uma pilha de nervos e fez uma única piada política. Após o prémio dedicado à edição, sobre o poder da montagem, capaz de "transformar 44 mil horas de filmagem de insurreição violenta num respeitoso passeio turístico pelo Capitólio". 

Também foi ele a lançar um momento pouco engraçado sobre se Harry Styles realmente cuspiu em Chris Pine, ainda gozou com o sotaque de Colin Farrell e brincou sobre a higiene duvidosa de Matt Damon (que, convenientemente, não estava na sala. Evitou-se mais uma chapada).

Quanto aos prémios (afinal os Óscares são isso mesmo, recorda-me agora a Maria Rita, acusando-me de estar a ir para o quinto parágrafo sem ter falado dos vencedores), o ambiente de boas intenções também prevaleceu nesse aspeto.

Não foi por isso surpresa que "Everything Everywhere All at Once" tenha conquistado as principais categorias em que foi indicado: ganhou melhor filme, melhor realizador (Daniel Kwan e Daniel Scheinert, também conhecidos como os Daniels ), melhor atriz para Michelle Yeoh, e melhor ator/atriz secundário para Ke Huy Quan, além de melhor argumento original e melhor edição.

A combinação de extravagante paródia de super-heróis é uma parvoíce cativante e uma história familiar profundamente pessoal e sentimental que, pelos vistos, toca os espetadores levando-os até à sua juventude, num ritmo revigorante. 

Mas a chave do sucesso oscarístico do filme está no seu elenco. Ke Huy Quan tem um passado de criança-ator, mas este é o seu primeiro papel importante em vinte anos e a malta gosta disto (a Maria Rita chorou durante o discurso e foi logo para o Google saber as asperezas pelas quais passou o ator).

Michelle Yeoh é um símbolo da Hollywood desperta para as causas e o sofrimento dos outros, porque superou o duplo obstáculo da escassez de papéis para mulheres asiáticas e para as atrizes de meia-idade. Ao colocar estes dois artistas no elenco, os Daniels preencheram todas as casas e bastava-lhes esperar a chuva de estatuetas douradas.

Além dos méritos (e são bastantes) de "Everything Everywhere All at Once", o que os seus criadores e a Academia fizeram foi abrir o caminho para uma série de filmes futuros que, de outra forma, provavelmente nunca viriam a existir.

Mas houve um filme alemão a complicar a lógica da cerimónia. Sinceramente, não me parece ser melhor, nem nada que se pareça, do que os seus quatro excelentes concorrentes estrangeiros, mas "All Quiet on the Western Front" ganhou também pela sua banda sonora, pela fotografia e pela produção.

A vitória de Brendan Fraser como melhor ator, pela prestação em "The Whale" é bem-vinda, sobretudo após anos de presença reduzida devido a problemas pessoais, incluindo depressão. Apesar de ser o tipo de interpretação que dá prémios, o filme não merecia sequer estar na fase final dos Óscares.

Os maiores sucessos do ano candidatos na categoria de melhor filme – "Avatar", "Elvis" e "Top Gun"– foram para casa com um ou outro galardão técnico. E se quisermos ser mauzinhos (a Maria Rita está aqui ao lado a dizer que já o estou a ser desde o início) algumas destas obras nem sequer deveriam estar entre os finalistas.

Por fim, e para acabar com boas notícias, alguns dos bons filmes dos Óscares 2023 já estão disponíveis em streaming, mas faça um favor a si próprio e vá a uma sala de cinema perto de si.

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