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“O Museu Nacional de Arte Antiga representa Portugal e conta a sua história”
Cultura 5 min. 07.05.2015 Do nosso arquivo online
Entrevista com António Filipe Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga

“O Museu Nacional de Arte Antiga representa Portugal e conta a sua história”

António Filipe Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, vai estar no Luxemburgo na quinta-feira para falar sobre o museu que dirige há cinco anos
Entrevista com António Filipe Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga

“O Museu Nacional de Arte Antiga representa Portugal e conta a sua história”

António Filipe Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, vai estar no Luxemburgo na quinta-feira para falar sobre o museu que dirige há cinco anos
Foto: Alexandre Antunes
Cultura 5 min. 07.05.2015 Do nosso arquivo online
Entrevista com António Filipe Pimentel, director do Museu Nacional de Arte Antiga

“O Museu Nacional de Arte Antiga representa Portugal e conta a sua história”

O director do Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa vai estar no Luxemburgo na quinta-feira para falar sobre o museu que dirige, numa conferência organizada pelo Museu de História e Arte do Luxemburgo. Antecipando a palestra, António Filipe Pimentel levanta o véu sobre o futuro do museu lisboeta.

António Filipe Pimentel é há cinco anos o director do Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa. Quando tomou posse, em 2010, quis fazer do museu um desígnio nacional. Hoje é uma casa vibrante, graças a uma intensa programação de exposições notáveis, nacionais e internacionais, como “A paisagem nórdica do Museu do Prado”, “Os Esplendores do Oriente”, ou a recente exposição da colecção Franco Maria Ricci.

Já o projecto “Obra Convidada” tem permitido não só expor obras de grandes colecções internacionais no museu lisboeta, como mostrar no estrangeiro algumas das obras mais emblemáticas da sua colecção. É no âmbito desse projecto que o Musée national d’histoire et d’art do Luxemburgo acolhe actualmente a tela “O Casamento Místico de Santa Catarina”, de Bartolomé Esteban Murillo.

Antecipando a conferência da próxima quinta-feira, dia 7 de Maio, que vai decorrer no Museu de História e Arte do Luxemburgo a partir das 18h30, António Filipe Pimentel faz um balanço dos últimos cinco anos e levanta o véu sobre o futuro.

CONTACTO – Tem afirmado que uma visita a Lisboa sem ir ao Musel Ncional de Arte Antiga (MNAA) e ver os Painéis de São Vicente é uma visita incompleta. As visitas têm aumentado muito e, em 2014, o museu ultrapassou os 221 mil visitantes. O que aconteceu? Deve-se só ao aumento de turistas em Lisboa?

António Filipe Pimentel (AFP) - Finalmente o MNAA é o primeiro museu nacional também em números, não só no que se refere à sua colecção! O aumento deve-se em partes iguais à procura externa e interna. A programação de topo que temos conseguido fazer chamou a atenção para o valor e a relevância da colecção permanente do MNAA, aos olhos dos portugueses, sobretudo dos lisboetas. O MNAA era considerado uma espécie de Torre do Tombo, repleto de coisas valiosas… mas para os estudiosos. Era conhecido por meia dúzia de obras que acabavam por fazer sombra à restante colecção de 4.000 obras – é uma quota de desperdício alucinante! Hoje o museu ganhou uma nova relevância graças a uma identidade bem definida. O facto de o MNAA até agora não ter feito parte dos roteiros turísticos, não é mais que o reflexo das nossas patologias internas. Pois se nós não valorizamos, como pode surgir nos roteiros?

CONTACTO – No início do seu mandato referiu-se ao património do museu como sendo identitário de Portugal, “como projecto e na sua relação com o mundo”. Algumas das obras mais emblemáticas na construção da nossa identidade, como a Custódia de Belém, a Cruz de D. Sancho I ou os Biombos de Namban, não pertencem à secção de pintura e escultura, mas sim das artes decorativas. Que tipo de museu é o MNAA?

AFP – Fizemos um trabalho de reflexão profunda e dura sobre os diferentes vectores da colecção. O que é a “marca” MNAA? Só pinacoteca? Chegou-se a pôr a hipótese de colocar as artes decorativas noutro edifício, e deixar só ficar a pintura e a escultura. No entanto decidimos que o ’ADN’ do museu é enciclopédico e que a diversidade das colecções faz parte da sua identidade. O MNAA representa Portugal e conta a sua história. Fizemos uma valorização transversal das colecções, e o museu é hoje uma espécie de sinfonia em que cada instrumento forma um todo, mas também tem o seu momento de relevância.

As exposições reflectem isso. Temos a obra convidada, na pintura, tivemos a exposição Franco Maria Ricci, com pintura e escultura, e temos ainda a decorrer a terceira exposição “Azul sobre Ouro”, com porcelanas chinesas oriundas da Sala das Porcelanas do Palácio de Santos (hoje, sede da Embaixada de França em Portugal).

NOVA MAJESTADE PARA OS PAINÉIS DE SÃO VICENTE

CONTACTO – O que nos espera no MNAA ao longo deste ano?

AFP – Teremos a reabertura do terceiro piso, que irá albergar a colecção de pintura e escultura portuguesa. Vamos ter mais obras e outro enquadramento. Graças a esta reorganização, o políptico Painéis de São Vicente vai ter uma majestade que antes não tinha. É já por si uma razão para visitar ou voltar ao MNAA.

CONTACTO – E as exposições temporárias?

AFP – Estamos já em contra-relógio a montar a exposição dedicada a Josefa de Óbidos. É importantíssima. Fez-se uma há 25 anos que foi uma espécie de catálogo ’raisonné’. Mas esta tem um novo enfoque e vai-nos ajudar a perceber porque a pintora foi e é um mito. A exposição chama-se “Josefa de Óbidos e a Invenção do Barroco Português”, e vai demonstrar que Josefa de Óbidos não foi uma senhora prendada que pintava num país periférico. Josefa de Óbidos foi uma mulher notável, uma empresária e uma grande gestora que liderou uma oficina importante e fundou um património notável numa época em que Portugal atravessava uma grande crise.

É preciso lembrar que o século XVII foi um século com importantes crises económicas e identitárias, tanto antes como após a restauração da independência, em 1640. A pintura de Josefa de Óbidos, muito baseada nos santos e inspirada pelas artes ornamentais, vem rasgar um horizonte de optimismo e criar um ponto de fuga da realidade.

Nesta exposição, deslumbrante do ponto de vista estético, vamos conhecer uma mulher culta, forte e educada de um tempo que foi profundamente masculino. Nós saímos desta exposição enriquecidos, e contentes de ser portugueses.

CONTACTO – E a arte contemporânea? Também tem lugar num museu de arte antiga?

AFP – Seguramente! Teremos também de Maio a Setembro a quarta edição da exposição MNAA – Olhares Contemporâneos, Residência da Fundação EDP. Estas exposições mostram o resultado de uma residência de vários fotógrafos no museu. No final, os seus trabalhos são expostos em formato ’outdoor’ no jardim do museu. A exposição/residência é sempre comissariada. Este ano será o João Pinharanda, nos anos anteriores os comissariados foram assegurados por Jean-François Chougnet (ex-director do Museu Berardo), Delfim Sardo e, na primeira edição, Maria do Mar Fazenda e Filipa Valadares, num comissariado partilhado. Estamos a criar um acervo interessante de imagens do museu que assim se oferece às objectivas da nova geração de fotógrafos portugueses.

Vera Herold


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