Morreu José Mário Branco
Morreu José Mário Branco
José Mário Branco morreu esta terça-feira, 19 de novembro. A notícia foi avançada esta manhã pela RTP e confirmada pelo agente do músico, Paulo Salgado. O músico, compositor, cantautor e um dos nomes maiores da canção de intervenção em Portugal tinha 77 anos.
Nascido no Porto, a 25 de maio de 1942, definia-se como "português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular e aprendiz de feiticeiro".
O seu interesse pela política espelhava-se não só na sua música, que não se esgotou nessas temáticas, apesar de terem sido elas a defini-lo no imaginário coletivo, mas também na sua vida e na sua qualidade de cidadão.
Na juventude, foi ativista da associação católica e chegou a ser militante do Partido Comunista Português. Foi perseguido pela PIDE, durante o Estado Novo e em 1963 exilou-se em França, fugindo à participação na guerra colonial. Regressou a Portugal em 1974 e, depois do 25 de Abril, fundou o Grupo de Acção Cultural – Vozes na Luta (GAC) com vários músicos politicamente activos, entre os quais Fausto. Com esse coletivo gravou dois discos e participou no Festival RTP da Canção em 1975 com o tema 'Alerta'.
Ao longo dos anos 70 e 80 produziria uma parte significativa do seu catálogo discográfico, lançando alguns dos seus trabalhos mais emblemáticos, onde se destacam 'Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades', o seu primeiro LP, lançado em 1971, 'Margem de Certa Maneira' (1973), 'Ser Solidário' (1982) e, aquele que é talvez o mais conhecido 'FMI' (1982).
Na década de 1990 editou também algumas compilações e em 2004 lançou o álbum de homenagem ao povo timorense, 'Resistir é Vencer'. Em 2018, foi editado 'Inéditos' (1967-1999). No mesmo ano, a Feira do Livro do Porto escolheu-o como figura a homenagear no certame.
José Mário Branco compôs e cantou para teatro, cinema e televisão, chegando a ser um dos elementos do teatro d' A Comuna. Foi fundador da Associação José Afonso.
Espetáculos e colaborações
As suas composições também inspiraram diversos espectáculos musicais especiais. Em 2007 estreou, no Porto, 'Mudar de Vida', a canção feita a partir dos versos de Camões que deu o mote a um concerto político, onde revisitou parte da sua obra.
Dois anos depois juntou os companheiros de sempre, Fausto e Sérgio Godinho, com quem nos anos 80 gravara 'A Confederação', para vários espetáculos.
Intitulado 'Três Cantos', a série de concertos viu o trio partilhar e cantar em conjunto alguns dos temas mais conhecidos das suas carreiras. Foram, de resto, várias as colaborações de José Mário Branco ao longo da vida, de Zeca Afonso a Luís Represas, passando por Camané, para quem arranjou e produziu vários discos.
À RTP, o fadista reagiu emocionado à morte do seu colaborador e amigo, que recordou como um "artista fantástico de uma dimensão incrível muito para além de um artista de intervenção" e fundamental na sua carreira.
