Jeune et jolie: Sem respostas
Jeune et jolie: Sem respostas
O último filme do francês François Ozon era dos mais esperados no festival de Cannes de 2013 porque se tratava do primeiro filme gaulês a entrar em competição e, sobretudo, porque o tema central de "Jeune et jolie" seria a prostituição.
Ozon, um dos mais criativos e menos maneiristas cineastas franceses, quase se irritou com os rótulos e foi avisando: "O filme é sobre a adolescência, nada mais".
Ninguém quis ouvir o realizador, sobretudo num país onde a prostituição se tornou num inimigo público e que regularmente discute leis de proibição ou mesmo de penalização dos clientes das prostitutas.O realizador de "Jeune et jolie" tem razão mas também não.
A obra de Ozon segue "as quatro estações" de Isabelle (Marine Vacth), de 17 anos, acompanhadas por outras tantas músicas que ilustram a vida e o estado de espírito da jovem.A história de Isabelle começa com a perda da virgindade com um jovem alemão, que não chega a ser um amor de Verão.
Tudo acontece "porque tem de ser", porque Isabelle assim decidiu. Pouco depois muda a estação e Isabelle começa a prostituir-se.As razões que levam a adolescente a procurar clientes através da internet nunca ficam claras.
O realizador de "Jeune et jolie" insiste que não queria dar respostas ao público: "Os espectadores do meu filme são muito mais inteligentes do que eu; cabe a eles descobrirem porque é que Isabelle se prostitui". Solução fácil, "n'est-ce pas, Monsieur Ozon"?
É verdade que o filme nunca leva pela mão os espectadores. Não os orienta nem lhes cozinha respostas. Talvez essa seja a maior virtude de "Jeune et jolie".
O realizador e argumentista decide deixar em aberto todas as hipóteses e – para isso – eliminou inclusivamente o argumento financeiro: Isabelle é a filha mais velha de um casal de classe média-alta e não precisa de dinheiro para nenhuma das necessidades de uma adolescente da sua idade e do seu meio.
Ozon quis excluir a justificação financeira que seria a resposta fácil aos porquês.Ozon explicou-se: "O dinheiro é sempre importante, mas Isabelle não avança para estes encontros com homens para ganhar dinheiro".
Então é para quê? Trata-se apenas de uma crise da adolescência em que a jovem quer chocar os seus próximos e – sobretudo – os pais? Ou será que esta é a sua forma de avançar nos meandros da sexualidade recém-descoberta?A própria Isabelle não sabe, mas dá-nos pistas.
A jovem diz que uma das coisas de que mais gosta são os primeiros contactos, "falar com eles na internet, e depois por telefone". E continua: "E depois, descobrir o hotel" e por fim a pessoa. Alguns dos seus clientes fazem-lhe lembrar o pai; não admira pois eles têm, em geral, a idade do seu progenitor.
Será esta a freudiana explicação?Ozon continua sem responder. Curiosamente, o cineasta preparou o filme com tal precisão que passou dias a conversar com um psicólogo especialista na adolescência.
Este também não lhe deu respostas únicas. François Ozon estabeleceu uma relação tão próxima com o doutor Serge Hefez que acabou por lhe propor o papel do psicólogo em "Jeune et jolie".
Está claro que o realizador está fascinado pela adolescência e pelas inúmeras dúvidas e desafios que os jovens enfrentam. Ozon assume que descreve esta fase da vida como uma etapa de transformação surpreendente e exprime-o de forma mais gráfica ainda: "Os adolescente são mutantes", disse numa entrevista durante o festival de Cannes.
Na mesma altura, Ozon aproveitou para avisar que o seu filme, não sendo de horror, vai provocar enormes angústias aos pais de jovens. "Jeune et jolie" não se limita a observar o mundo pelos olhos de Isabelle, acrescentando olhares diferentes, como o lado dos pais, por exemplo.
Para eles a angústia vem do facto de ver a sua criança transformar-se, descobrir a vida sexual. Segundo Ozon, esse assunto não é falado nem aparece nos ecrãs de cinema, daí a necessidade de o abordar, mesmo sem dar respostas e pegando nele por um extremo.
"Jeune et jolie", de François Ozon, com Marine Vacth, Géraldine Pailhas, Frédéric Pierrot, Fantin Ravat, Charlotte Rampling, Serge Hefeze Johan Leysen.
Raúl Reis
