E o Capitani acabou num cabaré
E o Capitani acabou num cabaré
Diz quem sabe que há um problema com as sequelas. Que a segunda temporada de uma série será sempre pior do que a primeira e que o segundo filme de uma saga nunca atingirá o nível do inicial.
Eu não acredito em predestinações. Se acreditasse deitava-me a dormir à espera do Euromilhões porque sei que é para vencedor do jackpot de sexta-feira que estou destinado.
Uma primeira temporada excelente pode ter uma irmã feiosa, apesar de os ingredientes serem os mesmos; e depois não há cromossoma que a salve.
Por não acreditar nessas generalizações é que apanho muitas vezes grandes barretes. Costumo ir ver os filmes todos que têm um '2' a seguir ao título e não hesito lançar-me nas mais longas séries com quatro ou cinco temporadas. Há quem lhe chame insónia, eu prefiro acreditar que é persistência.
Qualquer série que convença e decida abrir caminho para uma segunda temporada é como quem faz um filho que sai bonito e diz prá mulher: vamos lá fazer mais um que ainda vão ser todos estrelas de cinema ou modelos. Só que nada garante que a combinação de dois ADNs produza resultados iguais de cada vez que se misturam.
É a mesma coisa com as séries. Uma primeira temporada excelente pode ter uma irmã feiosa, apesar de os ingredientes serem os mesmos; e depois não há cromossoma que a salve.
Aconteceu isso com "Capitani", a série com mais êxito da história do Luxemburgo. Ela foi RTL. Ela foi Netflix. Ela foi recordes internacionais. Ela foi um êxito! E ainda o ferro estava quente quando os produtores decidiram lançar-se na segunda temporada.
Se a primeira tirada era claramente um thriller policial rural (com umas veleidades psicadélicas no final), "Capitani 2" muda-se para a cidade, ou seja, para a capital luxemburguesa onde grassa a prostituição (em duas ruas) e os dealers nigerianos (três) ameaçam o doce equilíbrio da vida na capital.
Os mais perturbados com isto parecem ser os donos dos cabarés e, sobretudo, o rei da noite luxemburguesa que não quer meter-se em drogas e outros cambalachos, ficando-se pelo tráfico de mulheres de leste e africanas.
"Capitani 2" é um regresso ao passado porque o mundo dos cabarés que ali é retratado já quase não existe. Nos idos de 2004, uma alteração legislativa acabou com as "bailarinas" que chegavam da Rússia, Ucrânia e Polónia transformando definitivamente a cena noturna luxemburguesa. Mas os argumentistas da série não querem saber disso: os reis da noite continuam a ser os donos dos cabarés e a ameaça vem da Nigéria (e do Brasil) com um crescente narcotráfico.
Luc Capitani, saidinho da prisão porque teve cunhas (é tão bom viver num país onde toda a gente se conhece), dedica-se a descobrir, para depois desmantelar, o tráfico de droga e de mulheres (e carros de coleção) basicamente nas duas ruas que acima referi. Essas ruas conheço-as bem, por isso não consegui desgrudar do ecrã. Vi sítios que frequento, vi alguns figurantes que conheço e tive imenso gosto em voltar a ver as nossas duas vedetas lusas locais: Magaly Teixeira e Nilton Martins, entre outros luxotugas.
Mas custa muito ver que Capitani já não dá gozo ao homem que encarna o protagonista. Luc Schiltz oscila entre o aborrecido e o muito aborrecido e mesmo dois socos nas trombas não o tiram do sério. Parece cansado o rapaz que, disseram-me ontem, é mais velho do que eu pensava. Talvez seja o peso dos anos ou o muito trabalho que apareceu graças à primeira temporada de "Capitani"...
Sophie Mousel continua gira, mas também ela parece padecer da maleita que afeta o seu colega. Acho que de tanto lhes pedirem para se parecerem com um polícia norte-americano, os daquelas séries que estamos fartos de ver, os próprios atores devem ter-se aborrecido e decidiram fazer greve de expressões: só tenho esta, e quem não gostar que não olhe!
Ver a segunda temporada de "Capitani" ainda vai sendo giro para quem por cá vive. Olha a gare! Olha o café da Fernanda! Olha a escola do Pedro! Mas custa-me a crer que alguém, sei lá... na Tailândia, esteja neste momento a dizer prá mulher: liga aí a televisão e vamos ver mais dois episódios de "Capitani" que eu quero saber o que aconteceu com o filho do rei da noite luxemburguesa!
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