Como manter excelentes relações com a família
Como manter excelentes relações com a família
Todos sabemos que quando vamos “lá abaixo” não temos tempo para filmes. Já todos passámos à porta de um multiplex num centro comercial e pensámos: “Amanhã vou ver este filme português”. E todos nós acabamos por preferir ir apanhar sol numa esplanada ou decidimos aceitar o convite da tia Maria José para jantar, ela que já nos anda a dizer para ir lá a casa há três Verões...
Mesmo com a internet e todas as piratarias e “downloads” que por lá se podem fazer, não é fácil acompanhar o cinema português quando não se vive em Portugal.
É por causa dos almoços em casa da tia Maria José, e porque piratear filmes é feio, que uma iniciativa como a Quinzena de Cinema Português no Luxemburgo é essencial para matarmos a nossa sede de cinema luso.
Desde 2009 que o Luxemburgo tem a sorte de ver cinema português pelo menos uma vez no ano e 2015 volta a não ser excepção.
Contudo, as dificuldades para projectar cinema português são inúmeras. As salas da capital e a maior de Esch, em Belval, estão nas mãos de um único dono, que escolhe os seus filmes exclusivamente por critérios de lucro.
Por outro lado, preparar uma mostra da Sétima Arte portuguesa é sempre difícil, porque conseguir uma boa selecção de filmes exige muitos contactos, longas negociações, muito tempo e muito dinheiro. Acresce o facto de os últimos anos terem sido “pobres”
para o cinema português e o número de produções ter sido escasso.
Em 2012, o cineasta António-Pedro Vasconcelos, convidado de honra da Quinzena de Cinema do Luxemburgo, interrogava-se como é possível o cinema português não integrar as programações regulares das salas do Grão-Ducado. O realizador não entendia que não pudesse ser lucrativo projectar cinema português regularmente neste país.
Por muito estranho que possa parecer, os portugueses do Luxemburgo não aderem ao cinema português. O fenómeno não é uma especificidade da diáspora lusitana: em Portugal é raro encontrar filmes portugueses no top 10 dos “box offices”. E as excepções são, muitas vezes e infelizmente, filmes com pouca qualidade.
A Quinzena de Cinema Português no Luxemburgo tem a oportunidade de atrair os portugueses aos cinemas, mas está demonstrado que não podemos contar apenas connosco: qualquer evento de cinema português no Grão-Ducado deve existir para todos os residentes.
A divulgação da actual Quinzena de Cinema Português tem de viver com e para os mais de 100 mil lusos, mas deve conquistar todas as outras comunidades cinéfilas do país, e isso passa por uma divulgação intensa através de meios de comunicação em língua luxemburguesa, francesa, alemã e inglesa.
E depois é preciso criar hábitos. A solução para mostrar mais filmes só pode conseguir-se através de um cineclube português no Luxemburgo. Uma organização, de tipo associativo, que desenvolva um sentimento de pertença, e que deveria ser apadrinhada pelas entidades oficiais, e que deve propor um filme mensalmente ou bimensalmente. A vantagem de uma organização deste tipo seria uma maior proximidade da comunidade e a participação dos cinéfilos da mesma nas decisões. A actividade desse cineclube português seria complementada por uma mostra, com uma periodicidade anual, como a Quinzena.
E quando voltarmos “lá abaixo” nas férias, já poderemos ir jantar a casa da tia Mizé sem remorsos por não termos ido ao cinema.
Raúl Reis
