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Cannes francês e feminino
Cultura 4 min. 27.05.2015 Do nosso arquivo online
Cannes 2015

Cannes francês e feminino

O senhor Dheepan e a família foram a Cannes
Cannes 2015

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O senhor Dheepan e a família foram a Cannes
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Cannes francês e feminino

A 68ª edição do festival de cinema de Cannes teve duas características marcantes: foi dominada pela presença francesa tanto na competição como nas secções paralelas e deixou bem claro o papel da mulher no cinema de hoje.

A 68ª edição do festival de cinema de Cannes teve duas características marcantes: foi dominada pela presença francesa tanto na competição como nas secções paralelas e deixou bem claro o papel da mulher no cinema de hoje.

Este último aspecto foi lembrado todos os dias em conferências com grandes nomes femininos da Sétima Arte que levaram mais longe o debate sobre o papel da mulher no cinema. A questão foi colocada na agenda cannense em 2014 por Jane Campion, a única mulher a ter recebido uma Palma de Ouro.

O cinema francês tinha cinco filmes na selecção oficial, o que é mais do que os habituais quatro, mas esteve também muito representado no palmarés da competição oficial ao arrecadar a Palma de Ouro e os galardões para os melhores intérpretes.

O filme “Dheepan”, do realizador Jacques Audiard, conquistou a Palma de Ouro numa decisão que pelos vistos foi fácil para o júri presidido pelos irmãos Coen. A palma foi assim entregue a uma obra de grande actualidade que acompanha a vida de refugiados do Sri Lanka. Traumatizados pela guerra, tentam reconstruir a vida em França, mas são confrontados com a violência que encontram nos arredores de Paris.

Os jurados não foram certamente alheios à actualidade política internacional: esta história de imigrantes que procuram asilo noutro país é premiada numa altura em que o mundo assiste a massivas movimentações de refugiados e a constantes movimentações de migrantes no Mediterrâneo.

“Receber este prémio das mãos dos irmãos Coen é algo de muito extraordinário. Estou muito comovido”, disse Audiard, que acrescentou ter tido sorte por Michael Haneke este ano não ter feito nenhum filme, senão o prémio teria certamente ido parar às mãos do realizador austríaco.

Surpresa terá sido um dos grandes favoritos, Nanni Moretti, não ter recebido nenhuma menção no palmarés. O realizador italiano é sempre um filho-pródigo do festival mas este ano voltou para Itália de mãos a abanar.

As escolhas do júri foram orientadas por uma certa preocupação político-social. Num ano em que os filmes a concurso eram sobretudo espirituais, os jurados preferiram temáticas bem concretas. Além do filme de Audiard, outro francês foi premiado, com o galardão de melhor actor, Vincent Lindon, que interpreta um operário desempregado em “La Loi du marché”, do realizador francês Stéphane Brizé. Neste filme, Vincent Lindon enfrenta meses sem trabalho, com várias desilusões, mas reagindo sempre de forma a manter a sua dignidade. O actor contracena durante todo o filme com pessoas sem experiência de interpretação que desempenham na vida real os mesmos papéis.

Se Vincent Lindon era uma escolha previsível, o prémio de melhor actriz foi mais polémico. Cate Blanchett era uma das favoritas para a melhor interpretação feminina pelo seu trabalho no filme “Carol”, mas acabou por ser a actriz Rooney Mara que com ela contracena a obter a distinção para a melhor actriz. Mas Mara teve de partilhar o prémio com Emmanuelle Bercot, que participa no elenco de “Mon Roi” (mais uma obra francesa), filme no qual interpreta uma mulher que sofre uma queda numa estância de esqui, fica ferida e apaixona-se enquanto recupera.

O Grande Prémio do Festival de Cannes foi entregue ao filme “Son of Saul”, do realizador húngaro László Nemes, que aborda o trabalho de um comando especial de prisioneiros. Este grupo ajudava os nazis na remoção dos corpos dos prisioneiros judeus do campo de concentração, quando estes morriam de fome, sede, doença ou nas câmaras de gás de Auschwitz. “Este continente ainda é perseguido pelo Holocausto”, disse o realizador, justificando regressar à temática dos crimes nazis.

O prémio para melhor realizador foi entregue a Hou Hsiao-hsien, que aos 68 anos filmou um drama minimalista com artes marciais – “The Assassin” – que segue uma justiceira na China do século IX com ordens para matar o homem que ama.

Os filmes portugueses tiveram presença discreta, apesar de mereceram elogios da crítica. Na selecção paralela Quinzena dos Realizadores, Miguel Gomes apresentou o muito aguardado “As mil e uma noites” que, apesar de ter aumentado a base de fãs do português, não lhe mereceu nenhum prémio.

Na Quinzena estava também a curta-metragem de ficção “Provas, exorcismos”, de Susana Nobre.

Para os críticos de Cannes, numa votação que é feita durante o festival, “As mil e uma noites” é o quarto melhor filme exibido nesta edição, logo a seguir a “The assassin”, de Hou Hsiao Hsien, “Cemetery of splendour”, de Apichatpong Weerasethakul, e “Carol”, de Todd Haynes.

Noutra seleção paralela, a ACID, o português João Pedro Plácido apresentou um filme que já tinha seduzido vários festivais: “Volta à terra” é um documentário ficcionado que foi escolhido pelos organizadores do certame de cinema independente por ser um “excelente herdeiro de um certo neo-realismo italiano”.

 Raúl Reis, em Cannes


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