Blade Runner 2049: Um filme bonito com manequins
Blade Runner 2049: Um filme bonito com manequins
Quando nos idos anos 80 vi “Blade Runner” tive a certeza de que se tratava de uma obra-prima. Nessa altura a única possibilidade de rever um filme era voltar ao cinema ou esperar uns meses largos até que ele passasse para as prateleiras dos clubes de vídeo.
Equanto esperava comprei a banda sonora. Ouvi-a sem parar. Passei-a em todas as emissões noturnas de rádio que realizei e, só de falar nisso, ouço imediatamente um saxofone e caio no ambiente noturno e futurista que Vangelis criou para o filme.
“Blade Runner” é uma obra tão extraordinária que não precisava de uma sequela, muito menos 35 anos depois!
O mundo que o filme de Ridley Scott criou é fabuloso, por isso qualquer tentativa de o enriquecer ou reconstruir só podia falhar. Assim foi.
O velho realizador voltou para produzir a sequela e deixou a cargo de muita e boa gente as tarefas principais: fotografia de Roger Deakins, cenografia de Dennis Gassner e o argumento foi co-escrito por Hampton Fancher, um dos guionistas originais.
Mas se o filme original deixava sonhar, propunha reflexões sobre a relação entre o ser humano e a máquina, “Blade Runner 2049” opta por um tom mais sisudo, se calhar demasiado pesado e meditativo.
O realizador Denis Villeneuve escolheu passar em revista todas as grandes temáticas da ficção científica: da existência humana às recordações, passando pela alma e pela reprodução.
O cineasta consegue deixar a fronteira entre realidade e ficção bastante ténue, o que é uma virtude.
E depois há as imagens. Cenários magníficos e efeitos de luz que são aproveitados ao máximo, dando a impressão de que os atores foram instruídos para andaram muito devagar para que o investimento em belas escadarias compense (talvez por isso o filme tenha quase três horas de duração).
Por outro lado, ninguém quis dar muitos diálogos aos atores; talvez assim o público tente penetrar na alma das personagens, mas o resultado final é a impressão de que todos eles são robôs ou simplesmente manequins.
“Blade Runner 2049”, de Denis Villeneuve, com Harrison Ford, Ryan Gosling, Ana de Armas, Jared Leto e Mackenzie Davis.
Raús Reis
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